segunda-feira, dezembro 20, 2010

estrelas - muitas!

No noite dos meus anos apareceram-me umas estrelas à porta de casa.
Eu não as esperava e traziam com elas toda a Luz de Deus (e por isso são elas próprias o meu maior presente) e este poema.
Já no ano passado, tinham aqui vagueado outras estrelas.. espero que esta "moda" passe.. senão ainda morro de ataque de coração, com mais algum aniversário destes! ;)

[...]
Então eu vi chegar ao meu encontro
Aqueles que uma estrela iluminava

E assim eles disseram: «Vem connosco
Se também vens seguindo aquela estrela»
Então soube que a estrela que eu seguia
Era real e não imaginada

Grandes noites redondas nos cercaram
Grandes brumas miragens nos mostraram
Grandes silêncios de ecos vagabundos
Em direcções distantes nos chamaram
E a sombra dos três homens sobre a terra
Ao lado dos meus passos caminhava
E eu espantada vi que aquela estrela
Para a cidade dos homens nos guiava

E a estrela do céu parou em cima
de uma rua sem cor e sem beleza
Onde a luz tinha a cor que tem a cinza
Longe do verde azul da natureza

Ali não vi as coisas que eu amava
Nem o brilho do sol nem o da água

Ao lado do hospital e da prisão
Entre o agiota e o templo profanado
Onde a rua é mais triste e mais sozinha
E onde tudo parece abandonado
Um lugar pela estrela foi marcado

Nesse lugar pensei: «Quanto deserto
Atravessei para encontrar aquilo
Que morava entre os homens e tão perto»

A estrela, Sophia de Mello Breyner Andressen



quarta-feira, dezembro 15, 2010

dos filhos que (re)convertem os pais

Há um fenómeno curioso nos dias de hoje.

Antes a fé era ensinada, passada exclusivamente de pais para filhos. Tradição familiar. "Normal", inquestionável.
Nem se pensava na possibilidade da não existência de Deus. Não era sequer uma hipótese a considerar.

Depois veio o Iluminismo. Mas ainda assim, até ao início do século passado, mesmo na Europa (sim, porque há outros sítios do mundo que ainda não se coloca a hipótese da não existência de Deus), para alguns era inquestionável. Uma coisa é certa: regra generalíssima que eram os pais a catequizar os filhos.

Hoje em dia vivemos numa sociedade que se pensa secularizada ou pelo menos que se quer assim. Melhor para nós, crentes, obriga-nos a questionar, a sair do quadrado e a ter que conhecer as razões da fé - sim porque a nossa fé tem razões, fundamentos. Obriga-nos a ser mais conscientes. Obriga-nos à autenticidade, senão não só nada valemos como ninguém nos deixa ser "porque sim".

E é aqui que entram os filhos que convertem os pais. De repente, a vida (Deus) concede-lhes a oportunidade fabulosa de irem mais fundo, de perceberem o que ali (naquele desejo de mais) se passa. De pensarem a fé. Começa tudo a fazer sentido e a opção de vida passa ao consciente e comprometido. Os pais param pasmados. Descobrem que até nisto se pode aprender com os filhos. Começam a ir a missas que são animadas por eles, a encontros em que eles participam, a celebrações que eles preparam. "Fogem-lhes" pras beatices. E porque é que um filho do mundo de hoje havia de fugir pra uma igreja, se lá não encontrasse uma "razão" forte? E começam eles a voltar. A apalpar terreno, a (re)descobrir o fascínio que tanto deslumbra os filhos, que lhes faz falta como água. E os não intencionados filhos evangelizam os pais pelo seu testemunho de ausência.

Parece uma contradição, mas acontece. Aconteceu comigo e acontece com muitos.

Isto a propósito de ter conhecido duas mães que se lamentavam (no seu orgulho escondido) do tempo que os filhos "perdem ali" prós estudos. 
"Mas não fazem tudo e não são bons alunos?" - pergunto eu.
"Sim, mas não sabemos como." - dizem elas.

Deus sabe. E é por saber, que se serve dos filhos para converter os pais.
Todos os dias.

segunda-feira, novembro 29, 2010

da amizade que custa

quando ser amigo é ter que ir.. não obstante a vontade ser ficar.
quando não há mais nada que possamos fazer, nem sequer estar ao lado.
Nem sequer estar ao lado em silêncio...

terça-feira, novembro 23, 2010

delicioso

linha amarela às 18h55:

um senhor levanta-se para um menino de, no máximo, 5 anos se sentar.
ele senta-se, olha para a senhora do lado com uma caixa de bolachas na mão e diz muito interessadamente:
"quero comer estas bolachas"
a senhora abre muito os olhos e sorri.
a mãe diz "nem pensar".
a senhora insiste, diz que o filho é igual.
ele começa a comer a suas bolachinhas, a mãe obriga ao obrigado da praxe.
eu começo a sorrir e não consigo parar, pra dizer a verdade dá-me vontade de rir à gargalhada e tenho que me controlar. a senhora sentada ao meu lado também. mas ele não quer saber da vergonha da mãe, da não manifestação do pai e muito menos dos nossos sorrisos. 
quando a mãe diz "vamos sair aqui", ele pergunta:
"a senhora vai sair aqui?"
"não"
"hum.. tá bem, amanhã vou comprar essas bolachas"
(gargalhadas)
"sim, podes comprá-las no Pingo Doce, chamam-se esquecidos"
com os olhos muito abertos: "no Pingo Doce??!"
"sim"
mãe com um sorriso: "espero não me esquecer dos esquecidos"
e lá vai ele, mas ainda olha pra trás e diz um "obrigado, senhora!" - este já não obrigado pela mãe :)

a questão das crianças não é a ingenuidade, é genuinidade. não é de todo a inocência, é a ausência de censuras sociais. they just don't care to care - thank God!

quarta-feira, novembro 17, 2010

da angústia

as angústias do coração movem-me sempre para escrita.
não sei o que é... mas é precisamente o não saber que sempre mais me angustia.
eterna insatisfeita, por natureza, impaciente por vocação e sequiosa por obsessão - há sempre algum caminho a percorrer, há sempre algo a "aperfeiçoar", há sempre um milímetro que me foge da régua.

esta falta de paz que me transtorna a alma.. esta não completude... este inacabado impossível

inquieta, questiono.

e esta quase certeza de nunca ver resolvidos os meus dilemas (senão no fim de tudo) provoca-me mais e mais do mesmo: angústia

veia melancólica de artista quase.. falta o quase... bom.. é o que falta sempre.

terça-feira, novembro 16, 2010

recomeçar a sonhar...

... em baby steps.. que o que é preciso é calminha...

segunda-feira, novembro 08, 2010

pessoas que inspiram

Já tive um ou outro professor digno de referência e influência na minha vida mas, de facto, já há muito tempo que não tinha esta sensação de um professor que inspira, sobretudo se do que fala, é precisamente do que chega ao coração.

É um privilégio ter um professor de Mestrado do ISCTE que é profundamente humano. Que se esforça por saber o nome de todos alunos (somos 50) e que propõe tipos de avaliação diferentes, tendo em conta as diferenças de todos.

Na última aula da cadeira, levantámo-nos e batemos palmas de pé. Nesta mesma aula, ao ser questionado sobre o porque de se insistir no Desenvolvimento, uma das suas respostas foi: "como posso eu trair estas pessoas que têm tanto para ser e dar?!"

E depois marca um jantar de turma e é ele próprio que nos serve à mesa, só pelo prazer de nos explicar o que é e de onde vem cada um daqueles pratos africanos.

Tem defeitos, impossíveis de esconder, mas o bom é tão bom, que inspira.

E é economista e é mais que Dr. e conhece mais de meio mundo de países e de gentes.

E são pessoas como estas, que estão no meio do mundo e que querem levar as pessoas a dar mais de si aos outros e a ser mais, que me fazem acreditar. Que me renovam na esperança.

É cristão, pois claro, e isso ainda me confirma mais na diferença e testemunho que devemos ser.
Esta é uma pessoa que, de facto, faz a diferença.

quarta-feira, outubro 20, 2010

também os há, calham-me todos!

na sequência de ser abençoada... tenho sempre bons chefes.

pessoas que mesmo quando não são competentes, são boas. e depois até já tive um que era competente e boa pessoa (2 em 1).

e este bom chefe, era bom porque que nos ouvia sempre (para isso havia sempre tempo), mas sabia meter-nos na ordem e a trabalhar também quando era preciso. era um diplomata, sabia gerir todas as situações do mundo. conseguia olhar para o outro lado, mesmo quando o outro lado não queria saber o dele. conseguia fazer de um trabalho dificílimo, uma alegria (nem sempre, mas muitas vezes). sabia avaliar as pessoas sem as julgar (!). e mesmo quando era mais "mauzinho", tinha a capacidade de tentar minimizar e reconhecer o sucedido. sempre impecável, sempre a horas, sempre flexível. um pessoa com um bom fundo, num tipo de trabalho que nem fundo tem. uma pessoa do mundo, no meio do mundo, com valores. com confiança e esperança. só tenho pena de estar a escrever isto na distância de tempo e espaço porque haveria tanto mais para trazer do coração.

e só o escrevo agora porque tenho uma boa chefe outra vez. uma pessoa profundamente humana.

não, não tenho sorte.. atraio bençãos. porquê? porque Deus tem infinita misericórdia de mim. vá-se lá saber porquê. 

sexta-feira, outubro 15, 2010

antes digo..

Corrijo: a pessoa mais livre deste mundo foi Jesus.

E daí o meu pasmo em como sabia sempre dizer a coisa certa, na hora certa sem receios de quem e como ia afectar porque era o mais necessário naquele momento.

Espero poder crescer nesta liberdade.

**

quinta-feira, outubro 07, 2010

After Jesuítas

Uma pessoa nunca mais pode ser a mesma.

Sim, às vezes, parece que exagero.. e falo de alguns deles quase como se estivesse apaixonada. Mas na verdade, estou é encontrada. Encontrada na espiritualidade inaciana, que me chega sobretudo através dos jesuítas! E admiro-os na imensa liberdade que possuem. São as pessoas mais livres que conheço, porque plenamente entregues no que acreditam mais plenamente.

E no After Ben deu-me de novo a impressão... que estes homens se pudessem mudavam o MUNDO! Porque muitos "mundos interiores" já eles movem sem pedir autorização... 

Obrigada!

*

sexta-feira, setembro 24, 2010

estou ali

às vezes quando damos por nós já lá estamos.
não temos muito noção em que nos metemos nem porquê... mas já aconteceu.


sentei-me numa sala de aulas do ISCTE para ter a minha primeira aula de mestrado e de repente é que percebi: "estou mesmo aqui". tenho isto pra fazer nos próximos 2 anos. estou numa universidade. outra vez. e o professor falava e eu gostava (como se fosse estranho gostar! - e não é estranho ser estranho?!). eu quis mesmo isto, eu quero mesmo isto mas não sei como vim aqui parar.

[a primeira vez que entrei no ISCTE devia ter 16 anos, fugida do Liceu de Oeiras, para ver um namorado. ou seja, em toda uma outra vida.]

e ali estou eu, meio à deriva, a fingir que é mais um dia como outros. mas não é porque não pode ser. só que aconteceu sem eu dar conta.

confuso, não? pra mim muito!

seja! 

sábado, setembro 11, 2010

e depois há dias..

... em que posso conduzir pela marginal de manhã e sentir um sol e um cheiro a mar que pensava que já não existiam.. dias em que aparece um "anjo" no meio do sítio mais improvável (e não obstante, as minhas dores do mundo). 

nesses dias parece que tenho mesmo razões p'ra esperança, parece que há pequenos raios a saírem das nuvens.

e se por um lado, à tarde oiço alguém dizer que Jesus não existiu (medo! da ignorância mesmo), por outro lado alguém que faz anos decide, numa sexta-feira à noite, comemorar com uma oração entre amigos.

e entretanto, algures, vou (mais uma vez) despedir-me da "outra" ao aeroporto. de quem eu gosto TANTO, que até me dói o coração, só de pensar nisso.

vá-se lá entender estes dias!

haja coração!

terça-feira, setembro 07, 2010

do Amor

"O Amor não é um sentimento, é uma opção de vida. Por isso devemos permanecer nele, mesmo nas dificuldades."


Pe Miguel Almeida, sj 
in Homília Missa de Envio LD 2010

quarta-feira, agosto 25, 2010

da tentação da inutilidade

se me fosse guiar pela definição do dicionário, a palavra inútil é ainda mais pesada do que o que me pesa agora a mim.

mas pesa, vai pesando... é mesmo aquela "tentação" a moer, a pisar, a suspirar-me ao ouvido, a puxar-me pra dentro dela... só que já me fala há tanto tempo, que, sem querer, começo a acreditar...

quinta-feira, agosto 19, 2010

e entretanto no caminho...



foi tão difícil que é impossível de descrever... e mesmo os meus pés que podem ilustrar um pouco a minha dor, não chegam para tudo o que me passou pelo corpo e pela alma.

é difícil o caminho quando não estamos preparados, quando há quem ande mais depressa que nós, quando somos fracos. é difícil caminhar sem olhar pró lado, prá frente, pra trás. impossível carregar somente o peso da mochila, vem ainda o das dores do corpo (que é subitamente muito mais pesado) e o das dores da alma. impossível não aparecer o nosso lado lunar a colar-se a nós como sombra à qual tentamos, inutilmente, fugir. 

teria sido impossível chegar até ao fim senão gritasse constantemente ao mau espírito dentro de mim: "vai-te embora! eu sei que consigo porque não sou eu que consigo, é Deus que consegue por mim". E repetir até à exaustão as frases de S. Paulo:
"Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim" Gl 2, 20a
"Pois quando sou fraco, então é que sou forte" 2 Cor 12, 10b
"Tudo posso, Naquele que tudo pode" Fil 4, 13
"Por isso, não desfalecemos, e mesmo se, em nós, o homem exterior vai caminhando para a ruína, o homem interior renova-se, dia após dia. Com efeito, a nossa momentânea e leve tribulação proporciona-nos um peso eterno de glória, além de toda e qualquer medida. Não olhamos para as coisas visíveis, mas para as invisíveis, porque as visíveis são passageiras, ao passo que as invisíveis são eternas." 2 Cor 4, 16-18
"Não sabeis que os que correm no estádio correm todos, mas só um ganha o prémio? Correi, pois, assim, para o alcançardes. Os atletas impõem a si mesmos toda a espécie de privações: eles, para ganhar uma coroa corruptível; nós, porém, para ganhar uma coroa incorruptível. Assim, também eu corro, mas não às cegas; dou golpes, mas não no ar. Castigo o meu corpo e mantenho-o submisso, para que não aconteça que, tendo pregado aos outros, venha eu próprio a ser eliminado." 1Cor 9, 24 - 27

e sem ser de repente mas sim de mansinho, perceber que há sacrifícios, que a maioria deles aliás, só valem a pena ser feitos quando feitos por Deus. que não há nada que pague a nossa alma. que há sempre mais que podemos dar. que há sempre mais um bocadinho de caminho que conseguimos fazer, mesmo quando o nosso corpo parece querer impor limites. que somos mais fortes do que os kms que nos assustam, do que as distâncias que nos desalentam, do que o que dizemos que somos capazes. ainda que custe, ainda que doa, ainda que se prolongue mais do que pensámos, ainda que tenhamos que "ter esperança contra toda a esperança". ainda que tudo diga que não, se conseguirmos gritar bem fundo que sim... Deus ajuda e dá a força. e nós superamos-nos. até à próxima. pelo menos até à próxima queixa. até à próxima vez que for preciso voltar a acreditar.

mas o acumular da kilometragem começa já a indicar que é sempre possível. e por isso seremos mais fortes na próxima prova. teoricamente....


Haja caminho e as setas de Deus a guiar-nos..


Foto: Margarida Paccetti Correia

domingo, agosto 08, 2010

fui, vou, tenho que ir!





rezem por mim. eu caminho por vocês!

quarta-feira, agosto 04, 2010

de quê, Senhor, de quê?

De que é feita a dor?!

De que é feito o meu estoicismo? A minha capacidade de quase procurar sofrer? De onde vem?

Porque procuro o que sei que mais ninguém pode, gosta, quer fazer e faço-o?

Porque é que tem que ser o mais difícil e o mais difícil até ao fim? Com tudo, com todos.

Porque é que me é difícil desistir das coisas e das pessoas quando sei que já pouco há para fazer?

Porque não cesso o que me faz mal, mas assumo-o como tarefa a cumprir?

Há quem não perceba mesmo isto. Mas eu vou querendo e vou tentando... e é tão difícil só tentar... custa quase tanto como o que vou sofrendo.

domingo, agosto 01, 2010

já estão!

"Tobias, então, ergueu-se do leito e disse à esposa: «Irmã, levanta-te; vamos orar para que o Senhor nos conceda a sua misericórdia e salvação.» Levantaram-se ambos e puseram-se a orar e a implorar que lhes fosse enviada a salvação, dizendo: «Bendito sejas, Deus dos nossos pais, e bendito seja o teu nome, por todas as gerações; louvem-te os céus e todas as tuas criaturas, por todos os séculos. Tu criaste Adão e deste-lhe Eva, sua esposa, como amparo valioso, e de ambos procedeu a linhagem dos homens. Com efeito, disseste: Não é bom que o homem esteja só; façamos-lhe uma auxiliar semelhante a ele. Agora, Senhor, Tu bem sabes que não é com paixão depravada que agora tomo por esposa a minha irmã, mas é com intenção pura. Permite, pois, que eu e ela encontremos misericórdia e cheguemos juntos à velhice.»" Tobite 8, 4b-8

Haja Amor! ;)

Baci**

segunda-feira, julho 26, 2010

da dor do mundo

Doí-me a alma da dor do mundo.
Eu sei que o mundo é muito grande e por isso é grande a minha dor..

O "microclima" em que sempre vivi, é ainda mais micro do que o que pensava.

Eu sei que vivo demais, que sinto demais, mas não consigo não sentir.

Ainda me custa acreditar que a maioria é indiferente. Que a maioria escolhe viver as suas próprias dores, viver no pessimismo da descrença, viver auto-centrado. Que a maioria não é solidário, nem compreende esse princípio. Que a maioria.. simplesmente não quer saber. Não quer ouvir. Não tem tempo.
Que parte desta maioria acresce a este estado, a revolta, contra tudo o que mexe. Contra tudo o que não o ajuda a si, mas ajudar os outros nem pensar. Tratar mal os outros, porque alguém tem que ouvir, talvez possa ser.

"O dinheiro que ganho é para mim"
"Se a mim não me dão nada, porque hei-de dar eu alguma coisa a alguém?"

Não são frases que podiam ser, são frases que foram. Ouvidas por mim, atiradas a nós. E eu não posso, nem devo reagir mas há dias que não me contenho. É mais forte que eu. Sinto-nos como sacos de boxe. Ali, expostos na rua ao dispor de quem quiser. E hoje de novo, gritaram-me e eu a tremer por dentro e aguentar por fora.

Não posso deixar de me horrorizar perante a falta de Amor e de compaixão.

O que é que faltou na vida de todos para que o amor que experimentam, não ser tão forte que tenha que transbordar, o que é que faltou?! O que nos faz perder a vontade de dar? De ser para os outros? De assumir a corresponsabilidade de viver neste mundo?

Porque é que eu sou uma minoria, quando devíamos ser uma maioria?!
Somos humanos. Onde está a sensibilidade de olhar para o outro e perceber que está ali uma pessoa?

E se eu não cresse neste Deus que foi mais humano que todos os homens, não sei o que me valia. De facto, nada mais nos vale e Ele tem que bastar. Assim seja.

domingo, julho 18, 2010

do choro

reivindico o direito a chorar!


porque é que isso não há-de estar definido na Declaração dos Direitos Humanos?


tenho direito a chorar!


se estou triste, deixem-me chorar! 


posso estar triste?! é só de vez em quando...



segunda-feira, julho 12, 2010

hoje rezavam por mim assim:



"Que nuncas percas a esperança porque Deus nunca nos deixa confundidos."


Não é lindo?!? :)

quinta-feira, julho 08, 2010

porque não posso controlar

sinto-me, na maioria das vezes, esmagadoramente pequena... mas só compreendo o alcance da minha pequenez quando NADA depende de mim...

e quando sinto verdadeiramente que NADA depende de mim, assusto-me.

sei bem que a minha/nossa condição é precisamente essa de NADA depender de nós, mas é-me bastante confortável sentir também que posso fazer realmente algo em grande parte das situações, que posso ter um papel, que posso dar, que posso ter a iniciativa, que há algo que fará a diferença, que há uma coisa pequena que posso fazer. Uma coisa pequena, só uma, já me dá sentido. Mas quando não há NADA que dependa de mim, quando não há NADA que possa fazer.. aí sim compreendo o tal alcance da minha pequenez.

e não só me assusta como quase me frustra. a impotência. o ter que esperar. o saber confiar. e entregar. entregar, pelo menos, Àquele a quem devo a vida. entregar-Lhe tudo. Dizer-Lhe: agora é Contigo, agora és Tu. e seres Tu implica que é quando Tu quiseres, o que quiseres, da forma que quiseres.

e ficar quieta à espera. ora aqui está o problema são duas coisas muito difíceis para mim: estar quieta e esperar. mas na verdade a questão está em eu saber que há algo que eu não posso controlar: que me escapa, que está para além das minhas capacidades e possibilidades. e o que não controlo deixa-me sem chão. é-me difícil aceitar.

no fundo, no fundo é tudo um exercício de confiança. e os 2 exercícios de confiança, de aceitar, de entregar que Deus me pede neste tempo são dos mais difíceis que tive que fazer. mas tem que ser. e o que tem de ser... tem muita força.

terça-feira, julho 06, 2010

UNICEF

A partir de hoje sou oficialmente fundraiser da UNICEF.


Até era um ganda job senão fosse um nome pomposo pa um partime que é andar na rua a chagar as pessoas pra serem doadores regulares da UNICEF. 


Mas não me tou a queixar! É bom, muito bom.. até ver! ;)


***

sexta-feira, julho 02, 2010

menino do meu encanto

Nunca tinha chamado isto a ninguém, nunca pensei chamar sequer, mas saiu-me num dos dias em que partilhava o entusiasmo do seu novo caminho!

Sobretudo nunca tinha pensado em chamá-lo a alguém que não fosse uma paixão (no sentido estrito, limitado, vulgar..). Mas a verdade é que falamos duma pessoa apaixonante e de um terno amor meu. Mais ainda amor e mais ainda meu, porque de todos, porque decidido numa vida entregue a Deus.

Hoje recebo um telefonema brilhante deste mesmo amor. E no meio de uma conversa rápida de novidades e andanças, diz-me ele: "se eu tivesse acesso à net, criava um grupo no FB de pessoas que não gostam de pessoas inconstantes e ainda seríamos uns quantos!". E logo a seguir: "pois é, nisso somos mesmo iguais".

Não é que não gostemos mesmo de pessoas assim.. o problema até é que gostamos e muito, senão nem era assunto que nos perturbasse.. só que é algo que nos dá comichão, que nos deixa perdidos, que nos tira o chão. Somos pessoas de decisões e convicções sérias e profundas. E tudo o que seja indefinição faz-nos tremer. Particularmente adeptos da frase brutal e dura do Livro do Apocalipse: "Conheço as tuas obras: não és frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente. Assim, porque és morno - e não és frio nem quente - vou vomitar-te da minha boca." (3, 15-16). Não é que sejamos especialmente radicais e/ou intolerantes mas quando ficamos em suspenso por causa de outros, é-nos difícil aceitar.

Do lado positivo pressupõe que somos pessoas altamente implicadas e comprometidas em tudo o que estamos envolvidos e com quem estamos envolvidos. Fiéis, permanecemos.

E entre nós, muitas vezes só mesmo entre nós, é que desabafamos estas dores de dificuldade de aceitação dos que não conseguem colocar-se assim na vida. Inteiros. ("Para ser grande, sê inteiro" - o nosso Fernando Pessoa)

Este menino do meu encanto, permanece encantado. E continua a encantar mesmo quando penso que estamos um bocadinho mais longe. Só ouvi-lo rir ao telefone, enche-me o coração. É ele que me faz desviar do meu percurso para entrar numa loja de música em Coimbra, só porque sei que ele vai ali às vezes e que gosta muito. Só para tentar sentir o que ele sente.

Estamos mesmo juntos. Na missão, no Amor. Somos tão amigos, que já somos Amor. E ele ainda me encanta, como um Amor que é sempre novo.

É por estas e por outras que digo que sou uma menina mimada do Pai. Ele é tantos mimos que quase me estraga! :)

quarta-feira, junho 30, 2010

não há lugar para Moçambique em Portugal

Ontem fui ao Largo de S. Carlos ver um espectáculo de música tradicional moçambicana.

Primeiro que tudo é importante dizer que fui sozinha. Muitas meias combinações, muitos "talvez vá lá ter". Decidi que ia com ou sem companhia. E pus-me a pensar neste facto. Há 4 anos atrás seria incapaz de tal. "E se depois encontro alguém que conheço e estou sozinha?"; "Assim não tem graça."
Mas tem toda a graça do mundo estar na qualidade de observadora apenas e não de também comentadora. Tem graça quando alguém mais atento observa que estou sozinha e volta a olhar. Quase que lhes leio os pensamentos que lhes saem desse olhar: "estará sozinha?"; "estará à espera de alguém?"; "que estranho". O meu olhar chega a muitos mais sítios. O meu sentir também. E sobretudo não se perde algo que queríamos genuinamente fazer só pela desculpa da companhia. E absorve-se.. absorve-se tudo. Cada detalhe. É como se fosse uma espiã, uma carta fora do baralho a tentar perceber, captar. Gosto muito. Não me estou a tornar uma solitária, mas gosto de estar sozinha no meio de muitos e já há poucas coisas que não faça nem não goste de fazer sozinha. O partilhado sabe muito muito bem e quem me conhece sabe bem também o valor que lhe dou, mas o silêncio e o saber estar comigo própria tem ganho um lugar muito particular na minha vida (mas talvez ainda volte a este assunto noutro tempo, que hoje ainda há mar por desbravar :)

Importamos África. Nós, sim, os europeus. Os africanos percebem o que gostamos, adaptam, vendem. Não que a música e a dança ontem não fossem de qualidade ou não fossem África, mas não é o genuíno. Não tinha a pujança, a espontaneidade, a eloquência africana. Era Moçambique sem sal. Uma versão condensada e um pouco limitada. Só mesmo os comentários dos músicos entre as actuações me soavam a verdadeiro. No fim, até teve direito à festa e à expansão de alegria (como convém) com toda a gente que quisesse a subir pró palco e a dançar, mas até isso foi meio forçado. A minha expectativa era grande, sim. Como se estivesse sedenta e crente de poder encontrar Moçambique naquele pequeno largo de Lisboa. Mas nós, os europeus, importamos o que nos encaixa melhor, o que é menos "bruto", mais "civilizado". Não conseguimos despegar-nos do que somos. É-nos difícil aceitar o outro tal e qual ele é. Sim, tem que ser um espectáculo "digno", à altura do Festival de que falamos, mas mil vezes as nossas festas improvisadas com a música que houvesse e o som péssimo da nossa casa de Lichinga. Mil vezes as mamãs a dançarem nas eucaristias depois de ensaiarem mil vezes também, algo que não precisavam de ensaiar porque acabam por, naturalmente, "seguir o ritmo da música" - "como não consegues, Andreia?? é só ouvir a música!". Mil vezes as crianças que dançam ao desafio desde a capulana da mãe e sem "fatos de gala". Mil vezes os cantos dos funerais, as músicas das festas muçulmanas, as danças cerimoniais. 
Não, ainda não se pode ver Moçambique em Portugal num largo de Lisboa por muito que se grite no fim: "Moçambique, OYÉ!". Até porque a plateia destreinada ainda responde: "OOOO" em vez de "OYÉ!".

E venho-me embora, sozinha, e sorridente: "ainda não conseguiram roubar a alma a África. Graças a Deus!"

Comichões minhas. Juízos de valor meus. Sentidos próprios. Valem o que valem.

segunda-feira, junho 28, 2010

não é a mesma coisa!

O mundo que perceba isto:


Não sou esquisita, sou selecta. Parafraseando a minha amiga J.


E não, não é nada a mesma coisa.

quarta-feira, junho 23, 2010

tenho esperança, mesmo de noite!

Cantar da alma que goza por conhecer a Deus pela Fé 
(S. João da Cruz)

Que bem sei eu a fonte que mana e corre
mesmo de noite.

Aquela eterna fonte está escondida,
mas eu bem sei onde tem sua guarida,
mesmo de noite..

Sua origem não a sei, pois não a tem,
mas sei que toda a origem dela vem,
mesmo de noite.

Sei que não pode haver coisa tão bela,
e que os céus e a terra bebem dela,
mesmo de noite.

Eu sei que nela o fundo não se pode achar,
e que ninguém pode nela a vau passar,
mesmo de noite.

Sua claridade nunca é obscurecida,
e sei que toda luz dela é nascida,
mesmo de noite.

Sei que tão cautelosas são suas correntes,
que céus e infernos regam, e as gentes,
mesmo de noite.

A corrente que desta vem
é forte e poderosa, eu o sei bem,
mesmo de noite.

A corrente que destas duas procede,
sei que nenhuma delas procede,
mesmo de noite.

Aquela eterna fonte está escondida,
neste pão vivo para dar-nos vida,
mesmo de noite.

De lá está chamando as criaturas,
que nela se saciam às escuras,
porque é de noite.

Aquela viva fonte que desejo,
neste pão de vida já a vejo,
mesmo de noite.



*Obrigada F.!