quinta-feira, dezembro 29, 2011

quinta-feira, dezembro 22, 2011

"Somos a autobiografia de Deus"

Quando despontarem as primeiras luzes do Seu cortejo
ainda nos faltará tudo:
o azeite na almotolia,
um alfabeto que descreva com outra firmeza o azul,
formas indivisíveis para este amor,
que só em fragmentos
e numa gramática imprecisa
conseguimos viver.

Quando despontarem as primeiras luzes
estaremos talvez longe:
à altura dos olhos continuaremos a trazer a mesma indisfarçável solidão
as mesmas mediações ilegíveis através do tempo
as mesmas demoras tatuadas.

O Seu advento encontra-nos sempre impreparados
e, contudo, este é o momento em que
por puro dom se nasce.

A Sua vinda testemunha o que não sabíamos ainda:
a nossa frágil humanidade é narração
da autobiografia de Deus.

José Tolentino Mendonça

domingo, dezembro 18, 2011

melhor prenda do mundo

arroz doce da avó, acabadinho de fazer, já com canela no tacho e tudo! (:

quarta-feira, dezembro 07, 2011

das (preparações das) viagens

devia estar a fazer a mala, mas não resisti.

há milhares de pessoas que já escreveram sobre esta adrenalina pré-viagem, sou apenas mais uma.

quando se gosta de viajar e se o faz com menos frequência do que a queremos, a viagem seguinte é sempre a melhor, seja qual ela for. e voltar a Roma, à Roma que marcou o meu coração há 11 anos atrás, com tudo por adivinhar de novo, cria esta excitação infantil.

já sei que só quando chegar ao aeroporto é que vai ser real. até lá é sempre uma miragem entusiasmante e sujeita a qualquer imprevisto e improviso. só me convenço quando o check in está irremediavelmente feito e as malas entregues. como se até lá.. não passasse de um sonho muito sonhado mas distante. aquela coisa de fazer as malas, de procurar o que já sei que me vou esquecer.. de querer adiantar o relógio na esperança de que os tempos mudem inequivocamente e nunca mais se olhe para trás, na esperança de que uma outra dimensão se abra nos nossos mundos interiores.

é isso: uma viagem é uma promessa. de mundos novos, de saudades velhas, de caminhos não percorridos.

entretanto esta viagem tem o carácter especial de incluir uma preparação de coração, porque as cidades que visitamos pelos olhos de quem as habita, são não só mais reais, como menos superficiais e podem mesmo revelar segredos jamais descobertos pelos mapas. porque os mapas são os desses mesmos corações que ao se encontrarem partilham o que lhes corre nas veias e rasga as almas.

e apertar os olhos e as mãos com muita força, repetindo insistentemente que está quase. pode ser que assim o quase chegue mais depressa!

segunda-feira, novembro 28, 2011

tenho um amigo-irmão

tenho um amigo-irmão com o coração do tamanho de todos os mundos. é um coração que se adapta ao coração que tem à frente. faz-se grande se necessário e mingua quando tem que ser.

tenho um amigo-irmão que procura estar inteiro, que vence mil barreiras mas precisava de vencer ainda a mil e um. gostava que ele soubesse que ele não é um super-homem, porque os super-homens não existem, mas existem os homens-super. e ele é bem mais que um homem-super: é um homem-mega (ou será ómega?! :)

tenho um amigo-irmão que queria que soubesse que, de facto, para estar inteiro em tudo, não se pode estar em muita coisa, mas também que não somos seres divididos e que as lutas que travamos são longas. mas afinal.. não andámos já todos no caminho da felicidade?

tenho um amigo-irmão que ainda que existisse só por minha causa e me fizesse só bem a mim, já tinha ganho o céu, mas a verdade é que ele está destinado a ganhar também a terra e por isso já é pão para muitos (ainda que ele ainda não o saiba).

tenho um amigo-irmão que é das maiores graças que Deus me deu e perante o qual me calo muitas vezes, por só o silêncio traduzir tal contemplação.

tenho um amigo-irmão que é a pessoa que mais posts "individuais" já tem neste blogue: há-de haver uma razão (é que ele é meu amigo-irmão).

obrigada!*

segunda-feira, novembro 21, 2011

Cachopo

da Páscoa que escrevi, mas nunca cheguei a publicar
_____________________________________________________


Perdemo-nos nos montes perdidos de Cachopo para visitar, acompanhar e ressuscitar com um Jesus, que também teve que se deixar perder para nos fazer reencontrar a todos com a verdadeira vida.

Nesta aldeia algarvia encontrámos a simplicidade e a pequenez. Não são muitas as pessoas, mas são todas genuínas e por isso genuíno é o acolhimento com que nos recebem e nos alargam o coração. Fomos para animar a Liturgia e saímos de coração animado. Procurámos levar esperança e companhia e saímos com Amor. Preparámo-nos para rezar com os para quem fomos enviados e estes apresentaram-se como eles próprios uma oração digna de uma vida inteira para contemplar.

Dizia a Joana: “são coleccionadores de memórias”. E é verdade. Estas gentes grandes em idade e património sentimental (mesmo os mais pequenos), fizeram com que o sentido de estar ao serviço fosse de facto a enormidade das suas pessoas mais do que os números “simbólicos” que são para outros. 

“Em tudo vos demonstrei que deveis trabalhar assim, para socorrerdes os fracos, recordando-vos das palavras que o próprio Senhor Jesus disse: ‘A felicidade está mais em dar do que em receber.’” (Act 20, 35)

E assim foi que ao terceiro dia, ressuscitámos! 
Obrigada, Cachopo!

quinta-feira, novembro 03, 2011

da solidão

da solidão que corta a alma. 
não porque estamos sozinhos, mas porque estamos sós.
porque só podemos estar sós. porque há coisas que se resolvem entre me, myself and I.

porque não existe absolutamente ninguém no mundo que nos possa ajudar, sem ser, obviamente, o próprio do Absoluto. porque o Absoluto às vezes também se cala, porque às vezes não O deixamos falar. 

porque há desertos e os desertos são inevitáveis.

porque há quem nos falhe para pudermos compreender que, ultimamente, com quem contamos é mesmo só com nós próprios. doí mas.. so what?

o ano mais só da minha vida, foi também o que cresci mais. 
venha outro. 
sei que sobrevivo, contra todas as probabilidades.

domingo, outubro 23, 2011

imperfeições

[enviado pelo oportuno F.]

"Com frequência tu pensas, ao olhar a ti mesmo e ao fixar-te só nas aparências exteriores, que és incapaz de fazer algo, que nada sabes, e que pouco podes esperar do teu trabalho com os próximos. Mas o Senhor, com o seu Espírito, leva-te a pensar o contrário, infunde-te confiança e coragem [...] Não dês crédito aos maus espíritos que sempre te pintam catástrofes e tentam fazer-te ver tudo negro. Procura fazer-te instrumento do bom espírito, que te mostra as coisas como ele quer que sejam, e pela sua parte está disposto a que assim suceda, fazendo de ti instrumento seu [...] Há que afastar com diligência todos os sentimentos do espírito contrário, sem preocupar-se em excesso com as imperfeições que ele te coloca à frente, nem dar-lhe tanta importância como eu lhe dava. Porque ao não fazer-lhes caso se desvanecem. E se me detenho nelas, desanimam-me e tornam-me mais imperfeito" 

in "Memorial de Pedro Fabro" de Pedro Fabro

domingo, outubro 02, 2011

MAIS!

Quando nos entregamos aos outros tão genuinamente que nem o pensamos, quando temos os olhos postos em quem queremos servir, é inevitável que os milagres aconteçam.
Milagres, sim, plural. Mais que isso, milagres de Amor. Vidas dadas na totalidade à totalidade. Vidas partilhadas no Amor e na descoberta de que é possível de uma forma e s t u p i d a m e n t e fácil, ser MAIS, fazer MAIS por alguém, levar MAIS a alguém.
Então o Amor flui. Já ninguém sabe de onde veio, nem como começou, já não se sabe quem deu a maior quantidade ou quem fez o maior esforço, porque o Amor é o mesmo e igual entre todos, porque o Amor corre com força e não há nada que o faça parar. Porque é evidente. Porque é necessário para cada gesto. Porque não faz já sentido sem ser assim.
Seguimos. Estupefactos, sem acreditar como tanto Amor pode passar por nós. Como atrás de MAIS, há MAIS e MAIS Amor. Como o Amor é tão grande. Como nos toca na pele.
Aconteceu naquele momento que sabemos "artificial", "criado", "montado". Mas parece que teima em permanecer. Parece que não nos larga. Que mantêm laços. Que nos persegue.
Inunda-me. Espanta-me. Cega-me a luz imensa deste Amor.
Há sempre uma lágrima a espreitar quando dele falo. Há sempre uma ilusão de que posso "re-criá-lo".
Não parece sonho, porque não foi. Não parece longe, porque está perto.

É a relação humana que muda. São pessoas que mudam pessoas. Não são acontecimentos nem coisas. São pessoas reais com corações reais. São os encontros entre essas pessoas, são as vidas partilhadas e entregues, confiadas... É quando o tempo pára connosco lá dentro e se ouve só os corações a baterem. Quando os abraços são colados, são amados.

Tudo porque quando somos tudo, somos MAIS. 

quarta-feira, agosto 31, 2011

de coração cheio


é difícil escrever de coração cheio e de um mundo de coisas a passar por ele que não o trabalho do dia-a-dia.


hei-de escrever.

segunda-feira, julho 25, 2011

das pressas pecadoras

Tinha acabado de pensar: "é provavelmente a melhor bifana que comi nos últimos tempos. não mal passada nem seca. tempero certo. sem nervos. impec!"

E no já pecado que é comer a andar (à comida também se deve respeito e dignidade e a oportunidade de ser devidamente apreciada), ainda por cima a passo largo, eis que o vejo no meio do passeio. Sem-abrigo ou pelo menos sem rumo. Olha pra mim e pede: "a senhora dá-me um bocadinho da sua bifana?" e logo de seguida: "é bifana, não é?". Eu, em movimento ainda, olho para bifana e ainda hesito 2 segundos* entre dar só uma parte ou dar toda. Dinheiro nunca, comida sempre. Curvo-me ligeiramente para trás, estendo-lhe a bifana e sigo em frente. Fez um olhar meio incrédulo e disse um tímido "obrigado". Eu, sem olhar para trás, lá fui, no mesmo passo largo.

Mas quanto mais subia a avenida mais aquela sensação de pecado se abatia sobre mim. 
Nem olhei para ele. Nem olhei para ele. Nem olhei para ele. e era Ele. era Ele. Nem olhei para ele.
De que me serve estender a mão e dar o mais "fácil" se nem lhe atribuo a dignidade de um olhar?! De que me serve dar "tudo" se a dúvida (*) e a hesitação ainda se abatem sobre mim? Se ainda não dou intuitiva e genuinamente? Se tenho pressa? Se ando a correr enquanto Ele passa por mim. Enquanto vem, propositadamente, ao meu encontro. A desculpa era das melhores: a hora marcada de um documentário para o qual eu estava atrasada. Sobre África, a minha África. Nem sequer conhecia o sítio, mais urgente se tornava chegar depressa. E sabem que é que aconteceu quando cheguei? Estava atrasado 45 m. 
E aquele meu "não olhar" ainda se me cravou e rasgou mais no coração.
Eu nem olhei. Não sei reconhecê-lo. Não sei. Não sei.

E este atormento que é andarmos a correr sem conseguir parar, sem olhar para quem precisa mais de olhar do que de pão. Como se "só o pão bastasse", como se eu não me debatesse em meios académicos, profissionais, pessoais, espirituais pelo contrário dessa lógica. Como se eu não acreditasse no "desenvolvimento integral do homem todo e de todo o homem". Como se, quando verdadeiramente importa, eu falhasse tanto como os "outros", os que acuso de não verem. Os que não querem ver. 
Como se eu falhasse não! Percebendo que falho, e mais gravemente, porque com uma consciência e obrigação bem diferentes de outros.

Ainda esta semana acompanhei uma família que passa fome. E agora penso: "e eles? será que também não olhei para eles?"

Que pressas as minhas! As pecadoras! :(

quarta-feira, junho 29, 2011

Il y a quelque chose..

Sou a obrigada a concordar com um lugar-comum bastante badalado: o Verão é desconcertante.
Há qualquer coisa que tira do sério as pessoas. Mexe lá com as hormonas e os corpos.

A principal diferença que noto é o aumento exponencial sobre a temática masculina, nas minhas conversas com mulheres. Sobretudo as solteiras, claro está.

A preocupação da solidão agrava-se, o desespero leva a medidas desesperadas (ou pelo menos a aspiração a estas), os velhos "amores" passam a ser perfeitos, os suspiros aumentam.

Acredito que a "abertura da época dos casamentos", parafraseando um querido amigo, também ajuda. É que nós, mulheres, não nos aguentamos nestas coisas. Pró bem e pró mal, mas sempre, em ambos, pró exagero. Enfim, orgulho-me de não ser nada lamechas, não obstante ser uma romântica incurável, mas tenho que reconhecer que há umas certas oscilações com esta época - mas cada vez menos, de ano para ano. Penso que estou a conformar-me com a perdição do meu caso. O que é bom. E mau.

Anda lá, Santo António, não te vás embora sem consolares aqui umas quantas amigas das minhas!

sábado, junho 18, 2011

terça-feira, maio 31, 2011

das misérias

E depois há os dias em que um sem-abrigo e uma vizinha preocupada nos obrigam a recolocar tudo em perspectiva..

Maiores que as misérias em que alguns vivem, são as misérias que nos permitimos ser.

segunda-feira, maio 23, 2011

do(s) "príncipe(s) encantado(s)" que existe(m) fora do guião

Fazemos mil planos.

Dizemos: a minha vida vai ser assim, assim e assim.. e se der tempo ainda assim. Tentamos seguir os planos. A vida não deixa. E nós persistimos, teimosos, tentando empurrar os caminhos exactamente para onde era "suposto" estarem. 
Não é que toda a gente seja assim, mas estou convencida, que a esmagadora maioria, consciente ou inconscientemente, o é.

Os planos a falharem e nós a insistirmos neles. A vida a dizer: não é por aí! E nós: é, porque eu quero. Mas a vida não se coaduna com os nossos quereres. Era o que faltava!.. Ainda pensarmos que mandamos alguma coisa nela! Há uns que vivem a vida inteira em negação. Não querem aceitar que seja de outra forma e por isso aceitam viver a fingir.

Por estas semanas, deixei cair mais um mito urbano pessoal.
Tenho esta panca de dois critérios muito bem fechados e definidos no recrutamento masculino. Como são dois critérios relativamente difíceis de conciliar num só homem, a eliminação é constante e fácil, mas que necessariamente torna difícil uma "selecção". 
Sou um bocadinho presunçosa. Procuro o "gourmet", argumentando que sou selecta. No entanto, no meio do deserto dos últimos tempos, uma pequena gota de água substituiu muito bem uma garrafinha de Evian ou Perrier. O que me fez concluir o seguinte: na verdade, o "gourmet" é rapidamente relegado para segundo plano quando nos deparamos com o básico e essencial para uma relação - interesse e carinho (Amor). Se nos sentimos verdadeiramente estimados caem por terra os critérios e as exigências, deixa de importar uma inteligência olímpica ou um estilo de vida quase paralelo. 
Não que eu tenha encontrado um amor da minha vida, mas tive a graça de me cruzar com alguém que me fez recolar tudo em perspectiva e, apesar de ser fruto de uma história tão  insólita como relampejante, valeu pelo que me fez questionar. Não há cá selecções quando há Amor. O Amor por si já é uma selecção.

E lá levei eu (mais) uma chapada de luva branca e mais uma linha do meu "guião" interno riscada, só para eu reaprender a humildade da minha pequenez, para saber o meu lugar. Não há, nem vai haver planos que me salvem. O inesperado continuará a irromper pela minha vida sem pedir licença nem ter considerações por regras e eu tenho mais é que me habituar a este reset constante e libertar-me das formatações. 
Por muito livre e independente que eu pense que já sou, a verdade é que ainda tenho muito que tirar de dentro do meu quadrado. 
Que eu tenha discernimento e abertura para isso.

quarta-feira, maio 04, 2011

da minha esquizofrenia

às vezes pergunto-me onde pertenço. quando alguém pergunta de onde sou respondo muitas vezes, alegremente, que sou do mundo, mas já é mais que isso: há muitos mundos diferentes que habitam em mim.

na última sexta-feira jantei num bairro social na Damaia, precisamente no dia do temporal de granizo. e quem é que vai para um bairro destes numa sexta destas à noite? nós (eu e a minha turma de mestrado).

mas no sábado dei por mim a jantar na Portugália (vá, nem é assim tão chique), seguido de uma visita a uma suite de hotel de cinco estrelas com uma das melhores vistas de Lisboa que já pude vislumbrar, paga por um indiano, um inglês e um paquistanês (eu e mais três amigas, não me interpretem mal! ;) e como senão bastasse, ainda fomos para o BBC entrando sem pagar, pelo corredor VIP, porque os nossos nomes estavam na guest list.

e no domingo um almoço de família e um cafézinho com a avó, a tia e mãe (porque afinal era dia da mãe), sem ainda falhar a inquestionável misssinha pois claro.


no outro dia o meu pai, a propósito de eu trabalhar com gente 'pobre': "ficas a saber que a tua família sempre se deu mais com gente pobre do que com gente rica". respondi-lhe prontamente: "pois, mas eu já é quase 50-50. não te esqueças que agora há sítios onde me movo em que até o 'protocolo' dos beijinhos é diferente (um ou dois...)"


ora bem.. isto já dava para tripla personalidade e ainda nem falei da diversidade das outras minhas "andanças"...

serão estas realidades irreconciliáveis? sou incoerente? estou a enlouquecer?

gosto de acreditar que não. gosto de acreditar que é o estar aberta a todas as diferentes realidades que me faz mais pessoa, que é assim que cresço, que é por isso que acolho cada vez mais e melhor os outros e o 'distante' de mim. gosto de pensar que não me defino por uma noite num bairro social ou outra num hotel de cinco estrelas. porque gosto de pensar que o me define são sempre e mais uma vez as pessoas com quem me cruzo, e as pessoas não se definem pela quantidade de dinheiro que têm (ainda que às vezes não só, mas também).  porque mesmo quando "fujo" para os que têm mais é sempre para os que têm menos que quero voltar. porque nos momentos em que me são apresentadas as diferentes opções, sei escolher em paz o que discirno que é mais coerente com o que sou. porque descobri, ainda que à custa de algum sofrimento e auto-flagelação, que o mal não está em conviver com o muito, mas sim em usá-lo mal.

porque o que eu sou é bem mais do que o que faço. e porque mesmo com o que sou de 'mal' há Alguém que me ama e me ama até ao fim de mim mesma (ver Jo 13, 1b).

sexta-feira, abril 29, 2011

Ressuscitou! E nós o que damos?!



Detida nesta insensatez:
"Tu estás mais disposto a dar, que nós a receber."
(Anónimo Século II)


e nesta:

“Descobri um paradoxo: se amarmos até que doa, não poderá haver mais dor, só amor”
(Madre Teresa de Calcutá)



terça-feira, abril 19, 2011

Boa Semana Santa!

«Não são os teus bens que distribuis aos pobres, mas apenas lhes restituis o que lhes pertence. De facto, tu usurpas o que foi dado a todos para uso de todos. A terra pertence a todos e não aos ricos. Contudo, ela foi tomada por alguns em detrimento de todos os que a trabalham. Assim, estás a pagar uma dívida, o que é bem diferente de dar esmola de forma gratuita.» 


(Ambrósio de Milão, século IV)

sexta-feira, abril 15, 2011

do bem, do bem, do bem



e depois há tanto, tanto bem que nunca caberia neste blogue.. e que ainda me estou a organizar para escrever sobre algum dele! ;)

segunda-feira, março 28, 2011

do mal

sabemos que há mal. sabemos que há muito mal no mundo e a nossa reacção básica é fugir. é uma espécie de auto-preservação. e bem. 

só que há males que são mais rápidos que as nossas pernas, mais perspicazes que a nossa imaginação, mais fortes que as nossas fracas defesas. e é nessas alturas que a tristeza nos invade. como é o mal pode ser tão mau?

não deixo de me surpreender com a minha surpresa perante o mal. sei que ele existe, já o experimentei muitas vezes, mas ele apanha-me sempre desprevenida. revolta-me as entranhas, tira-me voz e vida.

passo a vida a procurar focar-me na "implementação" do bem, a tentar promover o lado humano das pessoas e isso traz-me muitas graças, faz-me descobrir que o bem é sempre maior do que o que espero. mas depois o embate brutal com o mal também é mais dilacerante. pela graça, precisamente, de viver rodeada de muito bem.

não o deixo matar-me, não o deixo deitar-me abaixo, sei que sou mais forte que ele, mas o seu impacto é sempre estupidamente doloroso. 

é de natureza do ser humano: "É que o é o bem que eu quero que faço, mas o mal que eu não quero, isso é que pratico." (Rm 7, 19) mas é penoso à mesma, sobretudo quando o encontramos em sítios e em nome de coisas que nada deveriam ter a ver com o mal.

mas eu acredito profundamente na vitória do bem, do Amor. não tenho nenhuma razão, para não acreditar. isto foi só um desabafo.

quinta-feira, março 17, 2011

assombrada



Podemos ser perseguidos pela única coisa no mundo que 
não só não nos persegue, como não nos quer perseguir?


segunda-feira, março 07, 2011

É melhor dois do que um só

É melhor dois do que um só: 

tirarão melhor proveito do seu esforço.

Se caírem, um ergue o seu companheiro. 

Mas ai do solitário que cai: 

não tem outro para o levantar!

E se dormirem dois juntos, dormem quentes; 

mas se alguém está só, como se há-de aquecer?

Se um só é oprimido, dois já conseguem resistir a isso; 

o cordel dobrado em três não se parte facilmente. 



(Ecl 4, 9-12)

sábado, março 05, 2011

workshop de escrita criativa (Pedro Sena Lino)

E aqui está o meu resultado depois do TPC que ele me deu:

A música preenche os espaços não percorridos do coração, de tal forma que me traz de volta ao que já considerava perdido e ainda ao que nunca pensei alcançar. Envolve-me, retorce-me e faz-me viajar em tempos e momentos que nunca fariam sentido noutro espaço.
Com a música fico um pouco mais perto de Deus, aproxima-me dos homens, isolados e encerrados em mim própria. Transporta-me para mundos não imaginados, percorrendo os mundos de sempre. Alucino com a continuidade  e aspiro pelo silêncio. Mas regresso recorrentemente ao vício da música que me encontra em ciclos ilógicos, semi-perfeitos, arrojados e disformes.
O meu desejo de Deus é que sustenta e dá sentido à minha vida, precisamente porque a música é o que me transcende e o que me eleva ao divino. A  música só pode vir de Deus e perpetuar-se no homem. É que as minhas emoções são mais vastas que o Inverno. Não compreendo, não posso compreender ao que a música me conduz. As minhas emoções caminham ao ritmo do que a música me oferece e desorientam o que há muito considerava orientado. Sentir é o que preciso e não tenho e o que procuro secretamente na música mas não encontro.
A música preenche os espaços não percorridos do coração. E daí não me encontrar. Sim, o que não encontro é a mim e não à música. A sala era grande e tinha movimento. Estou perdida em espaços que afinal não me pertencem. Pertenço-lhes eu? O que me perdi, Senhor! Se a Ti te peço para que me ajudes, sei que virás em meu auxílio. Mas quando? As minhas ansiedades consomem-me e o que não percebo corrói-me. Se tivesse o dom do discernimento e do acolhimento de mim própria.. Se soubesse onde descansa o meu coração que só de Ti tem desejo! É em Ti, bem sei, mas como, onde e QUANDO! 
Estou consumida pelo Amor que não tenho, que não encontro, do qual não me sinto digna. Não o mereço mas quero. Quero alguma coisa: perceber. Se o Reino de Deus é já aqui e já agora é algo semelhante ao Amor entre todos, isso seria o céu na terra. O Amor, sempre o Amor! Obcecada com o Amor, viciada nas pessoas, encontrada na vida, mas desejando um mundo onde todas as pessoas possam ser mais pessoas. Sim, desejo, ambiciono, ordeno! Onde haja um homem todo e todo o homem. Onde a vida abunde em campos largos, mares altos e sol nascente.
Por isso repito: a música enche o vazio da alma e as minhas emoções são mais vastas que o Inverno.

terça-feira, março 01, 2011

para ti, querido Luís!

Com abraço igual à distância que vai daqui, aí à República Centro-Africana! :)


Nas tuas mãos, Senhor, coloco as minhas,
junto de Ti repouso o meu ser;
à tua vida ofereço a minha vida,
à tua vontade eu uno o meu querer.
Nas tuas mãos, Jesus, coloco as minhas,
venho para Te contemplar,
preciso de Te conhecer
em silêncio, Te amar.


O pão do teu coração, que consagraste a Ti
reparte-se em acção de graças,
e dá de si
é sinal do mesmo amor...
Uma missão lhe confiaste:
ser pão do Senhor.


O pão do teu amor procura o teu coração:
multiplica-se, transforma-se,
recebe de Ti
a sua vocação:
ser dom universal de si,
unir, reparar e ser amor.


O pão do teu ser, doação eterna de Ti,
reconhece-se onde estás,
é tua transparência,
feita de Amor e Paz
pão me ofereço assim, teu pão até ao fim.

quarta-feira, fevereiro 23, 2011

domingo, janeiro 30, 2011

matar ou deixar-me morrer

temos que ter cuidado com o que pensamos adormecido.
porque quando é "acordado", pode voltar com muita força.
ou nos prevenimos ou matamos de vez.
either way.. envolve sofrimento.

temos nós coragem de sofrer?

sexta-feira, janeiro 21, 2011

destes heróis anónimos

Não sei bem que pense destes com quem me cruzo.

Tenho uma profissão dura - a de ter que apontar caminhos. E quando eles não existem e é o desespero que se personifica à minha frente, apetece-me fugir. Ser cobarde, baixar os braços, dizer basta, não consigo, não quero porque não posso. Apetece-me incitá-los à revolta popular, ao roubo dos vergonhosamente ricos à custa deles próprios. Dá-me ganas de gritar aos que falam contra os apoios sociais sem conhecerem nenhuma destas realidades. De irromper parlamento adentro com eles todos atrás de mim e clamar por justiça, de lhes esfregar na cara a pobreza, que também tem cara e sofrimento. De lhes sujar as mãos, enojar com os cheiros. De os obrigar a VER! Sim, a VER! Porque o fácil é viver num condomínio fechado e fingir que tudo isto não existe. Ir passar um fim-de-semana ao monte e minimizar a realidade. Para calar a voz da consciência, satisfazer os pudores socais e alimentar uma certa imagem, talvez contribuir um (muito) pouco para uma organização através da internet ou ir a um jantar chiquérrimo de beneficência (é melhor evitar o contacto directo), mas nada de exageros que a crise anda aí.
E ter estes heróis nacionais que andam na intervenção social, sem estatutos reconhecidos, com contratos mais precários que os dos próprios utentes, a dar horas e sangue. E suor voluntários nos projectos onde são.. profissionais. A viverem na eminência de corte de mais um financiamento, quando eles precisam de mais vinte (pelo menos). A fazer omeletes sem ovos (e frigideira!). A serem humanos para além de toda a humanidade possível. A quererem crer, já sem crerem. A desesperar com contenção porque nunca podem desesperar tanto como os que têm à frente. Sem os puderem abraçar e fazer acreditar que têm verdadeira compaixão pelas suas chagas (porque somos "técnicos", não somos amigos.. porque é questionável).
Estes heróis anónimos todos os dias nas trincheiras da frente sem capacetes sequer, quanto mais armas para atacar os males inimigos e alheios. Expostos. Entregues. Com um brilho escondido nos olhos, sempre que uma luzinha se acende. À espera que exista sempre uma luzinha qualquer que lhes permita alimentar a própria chama. Só mais um bocadinho..

sábado, janeiro 15, 2011

da confiança

Quando me "esqueço" de escrever em momentos importantes, dá-me sempre a vontade de declarar a morte súbita deste blog e efectivamente nunca o faço.

Ando a mil (pra variar) e ficam para trás as coisas importantes como rezar e escrever.

Mas sei que posso sempre voltar. Sei que tenho sempre colo junto de Deus. E as coisas muitas vezes não correm como esperamos e há obstáculos que nem sabemos como ultrapassar. Mas a minha opção é a da confiança. Mesmo quando a confiança se começa a esvair. Mas mais do que nunca não me posso queixar da minha vida. Teria, eventualmente, razões para isso. Mas não posso. Escolho confiar. Às vezes é mesmo preciso estabilidade, desde que não nos entreguemos à comodidade. Às vezes somos só nós e Deus, o tal Deus connosco.

Não é tudo linear, nem tudo corre bem. Mas tudo é o que é e os meus calculismos de pouco servem.

A minha palavra de 2010 foi permanecer. Que agora possa permanecer.. na confiança, mesmo cheia de tremeliques, daqueles meus, daqueles humanos.

Haja Deus.

sexta-feira, janeiro 07, 2011

Não te quero senão porque te quero

No te quiero sino porque te quiero
y de quererte a no quererte llego
y de esperarte cuando no te espero
pasa mi corazón del frío al fuego.
Te quiero sólo porque a ti te quiero,
te odio sin fin, y odiándote te ruego,
y la medida de mi amor viajero
es no verte y amarte como un ciego.

Tal vez consumirá la luz de Enero,
su rayo cruel, mi corazón entero,
robándome la llave del sosiego.
En esta historia sólo yo me muero
y moriré de amor porque te quiero,
porque te quiero, amor, a sangre y fuego.



Pablo Neruda Cien Sonetos de Amor (1959) Soneto LXVI