quarta-feira, junho 30, 2010

não há lugar para Moçambique em Portugal

Ontem fui ao Largo de S. Carlos ver um espectáculo de música tradicional moçambicana.

Primeiro que tudo é importante dizer que fui sozinha. Muitas meias combinações, muitos "talvez vá lá ter". Decidi que ia com ou sem companhia. E pus-me a pensar neste facto. Há 4 anos atrás seria incapaz de tal. "E se depois encontro alguém que conheço e estou sozinha?"; "Assim não tem graça."
Mas tem toda a graça do mundo estar na qualidade de observadora apenas e não de também comentadora. Tem graça quando alguém mais atento observa que estou sozinha e volta a olhar. Quase que lhes leio os pensamentos que lhes saem desse olhar: "estará sozinha?"; "estará à espera de alguém?"; "que estranho". O meu olhar chega a muitos mais sítios. O meu sentir também. E sobretudo não se perde algo que queríamos genuinamente fazer só pela desculpa da companhia. E absorve-se.. absorve-se tudo. Cada detalhe. É como se fosse uma espiã, uma carta fora do baralho a tentar perceber, captar. Gosto muito. Não me estou a tornar uma solitária, mas gosto de estar sozinha no meio de muitos e já há poucas coisas que não faça nem não goste de fazer sozinha. O partilhado sabe muito muito bem e quem me conhece sabe bem também o valor que lhe dou, mas o silêncio e o saber estar comigo própria tem ganho um lugar muito particular na minha vida (mas talvez ainda volte a este assunto noutro tempo, que hoje ainda há mar por desbravar :)

Importamos África. Nós, sim, os europeus. Os africanos percebem o que gostamos, adaptam, vendem. Não que a música e a dança ontem não fossem de qualidade ou não fossem África, mas não é o genuíno. Não tinha a pujança, a espontaneidade, a eloquência africana. Era Moçambique sem sal. Uma versão condensada e um pouco limitada. Só mesmo os comentários dos músicos entre as actuações me soavam a verdadeiro. No fim, até teve direito à festa e à expansão de alegria (como convém) com toda a gente que quisesse a subir pró palco e a dançar, mas até isso foi meio forçado. A minha expectativa era grande, sim. Como se estivesse sedenta e crente de poder encontrar Moçambique naquele pequeno largo de Lisboa. Mas nós, os europeus, importamos o que nos encaixa melhor, o que é menos "bruto", mais "civilizado". Não conseguimos despegar-nos do que somos. É-nos difícil aceitar o outro tal e qual ele é. Sim, tem que ser um espectáculo "digno", à altura do Festival de que falamos, mas mil vezes as nossas festas improvisadas com a música que houvesse e o som péssimo da nossa casa de Lichinga. Mil vezes as mamãs a dançarem nas eucaristias depois de ensaiarem mil vezes também, algo que não precisavam de ensaiar porque acabam por, naturalmente, "seguir o ritmo da música" - "como não consegues, Andreia?? é só ouvir a música!". Mil vezes as crianças que dançam ao desafio desde a capulana da mãe e sem "fatos de gala". Mil vezes os cantos dos funerais, as músicas das festas muçulmanas, as danças cerimoniais. 
Não, ainda não se pode ver Moçambique em Portugal num largo de Lisboa por muito que se grite no fim: "Moçambique, OYÉ!". Até porque a plateia destreinada ainda responde: "OOOO" em vez de "OYÉ!".

E venho-me embora, sozinha, e sorridente: "ainda não conseguiram roubar a alma a África. Graças a Deus!"

Comichões minhas. Juízos de valor meus. Sentidos próprios. Valem o que valem.

segunda-feira, junho 28, 2010

não é a mesma coisa!

O mundo que perceba isto:


Não sou esquisita, sou selecta. Parafraseando a minha amiga J.


E não, não é nada a mesma coisa.

quarta-feira, junho 23, 2010

tenho esperança, mesmo de noite!

Cantar da alma que goza por conhecer a Deus pela Fé 
(S. João da Cruz)

Que bem sei eu a fonte que mana e corre
mesmo de noite.

Aquela eterna fonte está escondida,
mas eu bem sei onde tem sua guarida,
mesmo de noite..

Sua origem não a sei, pois não a tem,
mas sei que toda a origem dela vem,
mesmo de noite.

Sei que não pode haver coisa tão bela,
e que os céus e a terra bebem dela,
mesmo de noite.

Eu sei que nela o fundo não se pode achar,
e que ninguém pode nela a vau passar,
mesmo de noite.

Sua claridade nunca é obscurecida,
e sei que toda luz dela é nascida,
mesmo de noite.

Sei que tão cautelosas são suas correntes,
que céus e infernos regam, e as gentes,
mesmo de noite.

A corrente que desta vem
é forte e poderosa, eu o sei bem,
mesmo de noite.

A corrente que destas duas procede,
sei que nenhuma delas procede,
mesmo de noite.

Aquela eterna fonte está escondida,
neste pão vivo para dar-nos vida,
mesmo de noite.

De lá está chamando as criaturas,
que nela se saciam às escuras,
porque é de noite.

Aquela viva fonte que desejo,
neste pão de vida já a vejo,
mesmo de noite.



*Obrigada F.!

domingo, junho 20, 2010

dama de companhia

Gosto do K. Gosto mesmo. No dia dos anos dele (e como estamos os 2 desempregados) combinei ir passar a tarde com ele. Mas o K. é muito atarefado e lá fomos cumprir a listinha: acabar de lavar a loiça do almoço, orientar as coisas em casa, ir comprar uma tv, encomendar um estrado e lanchar (ele é um querido e pôs uma mesa cheinha de coisas pra mim - é um bocadinho exagerado também, mas fome não se passa naquela casa). Ainda queria que eu ficasse pra jantar, mas os meus planos já eram outros.

Ora que interesse é que isto tem? Pra vocês nenhum. Para mim é quase existencial.

Este dia faz-me lembrar várias coisas: o K. é um amigo à séria e as tradições ainda são o que eram (quando esteve em casa lesionado, também ia todas as semanas visitá-lo e todas as semanas havia o lanchinho) e que sou a dama de companhia oficial.

Não desgosto, até acho uma certa graça. Acho uma certa graça que as minhas amigas me "confiem fielmente" os seus namorados quando não se encontram e que as namoradas dos meus amigos (como é caso do K.) se sintam plenamente tranquilas quando estou com eles. I'm trustable.

Ainda há duas semanas o H. veio ter comigo enquanto a A. está na Guiné, quando a S. estava em Moçambique fui almoçar com o L. O R. vai-se casar daqui um mês e continua a chamar-me carinhosamente de "amorzinho" com o conhecimento da sua noiva A. And so on... Exemplos é que não faltam.

Conclusão (e daí o existencial): talvez a minha vocação seja mesmo a de "dama de companhia". E que seja. I'm happy with that.

*** 

quarta-feira, junho 16, 2010

no money, no mimos

sabem o que é me chateia MESMO de não ter dinheiro?!


não poder mimar os meus amigos com prendas e surpresas..


e não poder viajar...


só isso mesmo, juro!

segunda-feira, junho 14, 2010

should I worry?

Andamos a pensar na despedida de solteira da A. e eis senão quando a M. me manda um mail com umas sugestões e diz no final:

"Espero então pelo teu lápis azul da censura"


Confesso que amo a expressão. Não diria melhor.. e de certa forma quase que me orgulho de ser digna dela... mas por outro lado... não posso deixar de pensar que isto pode descambar pro meu lado lunar, aliás.. na verdade o que não posso mesmo deixar de questionar é porque razão as pessoas me vêem assim... Considero que já fiz uma grande evolução em relação ao meu hipercriticismo, mas será que fiz mesmo? Ou já não me livro é da fama?

Isso leva-me para a eterna questão já defendida por muita gente, ainda que não generalizada: não existem defeitos nem qualidades, existem características pessoais que tanto podem ser potenciadas para o bem como para o mal... ou seja.. vem da "tese" antiga, também subscrita por Santo Inácio, de que podemos usar de tudo TANTO QUANTO isso seja para maior amor e serviço do nosso Deus.


isto tudo para dizer que espero que, finalmente, eu tenha conseguido inverter a balança e o meu olho clínico esteja mais ao serviço do bem do que do mal, assim Deus me ajude! :)


Either way, já sabem.. precisam de um lápis azul da censura? Eis-me aqui! :)


Santo António?!


quarta-feira, junho 09, 2010

não querer pensar

Uma pessoa pediu-me um livro que não obrigasse a pensar.
É quase como pedir-me que eu não seja eu.
Procurei o livro e até acho que encontrei (infelizmente há tantos livros que não obrigam a pensar, quando se pensaria que essa seria uma qualidade inalienável a ser livro).

Fiquei a pensar nisto.

Não queremos pensar. Pra isso já temos os estudos, o trabalho. Não queremos aprofundar, isso só dá mais trabalho. E depois as vidas são vazias mas nem sempre na consciência, muitas vezes na ignorância. Mas será que... esta pessoa que me pede este livro pra não pensar é pior que eu? Tenho quase a certeza absoluta que não - e é senão for melhor, porque a conheço bem (se bem que também podíamos discutir o que é ser melhor que alguém..).

Então porque é que me incomoda o não querer assumidamente não pensar? Porque não me imagino fora da profundidade. Porque preciso de ir cada vez mais fundo, porque me chateia ficar pela "rama", não perceber, não conhecer, não me aproximar. De tudo, de todos. Porque tenho medo que esta pessoa esteja a fugir da verdade (bonita) que é, mesmo sem saber. Porque tenho medo que se ande a enganar em muitas coisas só porque não quer mergulhar. Porque tenho medo que a superficialidade acabe por ganhar.

Mas isto tudo sou só eu... porque ela não quer pensar..

(suspiro)

terça-feira, junho 01, 2010

estás aí

quando Deus diz mais, mais tarde.


quando olhamos e conseguimos surpreender-nos.


quando estamos "cansados" de tanto bem recebido.


quando nos encontramos com o Amor Único. com o Único Amor.


quando somos as estrelas e pouco mais importa. mesmo que ninguém mais queira ver o nosso brilho. ele está lá.