terça-feira, abril 25, 2017

caminha sobre as tuas próprias feridas

lembro-me sempre que é mau. que me doeu, que me custa, que posso não chegar ao fim. mas ainda assim com a memória dura do(s) caminho(s) anterior(es), finjo que é possível e vou. 

não penso muito se é o momento mais favorável, não faço muitas contas nem procuro muitos pormenores, rezo baixinho a mim própria que desta vez vai ser melhor. e depois não é, e também já sei isso, mas volto. 

ponho-me a caminho. tento ser criteriosa nas companhias, que as companhias são importantes nestas matérias, mas mais que companhias próximas, escolho é companhias sólidas. e a escolha não podia ter sido mais acertada. se é para ir a pé a Fátima, mais vale ir com os "mestres (experimentados) do ofício".

além das bolhas, das dores e dos calores, há sempre outros factores desconcertantes, inerentes à partilha de caminho com outros. e se umas vezes damos cem de fruto, outras sufocamos mais que espinhos. 

mas que caminho podemos fazer a pé que seja mais difícil que os desafios permanentes do nosso quotidiano? não temos sempre dores, feridas e outros que nos incomodam e a quem incomodamos? e entre isso e intrincado com isso, pessoas belas e paisagens descansativas, orações repetidas e Deus que reza em nós, conversas profundas e anjos que te alimentam no deserto. e a trama adensando-se, complica-se e já não podemos falar só mal ou só bem porque o mistério está no todo que se proporcionou e processou e que já não divisível. e até, curiosamente, acaba por ter mais força o bem e o bom.

temos fases desesperadas, teimosas, alegres e animadoras. mas se o próprio caminho não se repete, como nos podemos repetir a nós próprios? a dor de ontem já não é a de hoje, nem que seja porque a de hoje é maior. e nós perante a dor também não somos os mesmos: temos mais kms em cima mas menos para percorrer. e o que agora me motiva, foi o que ainda na última paragem me quis fazer desistir.

ainda assim cá dentro, sabemos onde temos o nosso tesouro. e se ele é forte, mesmo sendo difícil, avançamos. mesmo não querendo pedir ajuda, pedimos - porque mais importante que fazer sozinho ou junto, é chegar. e é esse o desejo que se repetirá, como compasso de banda marcial, o resto das nossas vidas: o que queremos é chegar. chegar a pessoas, chegar a casa, chegar às férias, chegar a ter paz, chegar a ser santo, chegar a ser capaz, chegar ao Amor.

podemos fazer em mais ou menos tempo o caminho, mas ele não se repete nem desaparece e quando olhamos para trás com nostalgia ou alegria, vemos história construída - património que ninguém nos pode roubar, erigido com esforço, dor e alegria.

entretanto algures neste caminho, Ele começou a sussurrar: "caminha sobre as tuas próprias feridas". mas rapidamente o sussurro transformou-se em voz clara, a voz clara em tom reivindicativo, o tom reivindicativo em ordem. a ordem repetida até à exaustão. até que eu própria tive que Lhe gritar: "já ouvi! se calhar não percebi o alcance todo disso mas pelo menos, já ouvi!". chato. Ele às vezes é um chato. bem sei que padecemos todos de ouvido duro em relação a Deus, mas Ele às vezes também não se cala. e às vezes também, a única forma de O calar é obedecer. já não serve fingir que não ouvimos, já não chega distrair a atenção, já não convence ouvir outras vozes. há um momento em que, mesmo sobre feridas, só podemos caminhar. só devemos caminhar, só nos resta caminhar. e só caminhar atenua a dor. o que mais me custava a determinado momento era mesmo estar em pé parada. ou bem que estava sentada/deitada a descansar ou estava a andar. parada em pé é que me dava umas dores tenebrosas. 
e creio também cada vez mais que é isso que Deus me pede: a não estagnar, a não paralisar de dor, a não sofrer indefinidamente em cima da mesma dor, a não me queixar, a não ficar presa sobre mim mesma, a não deixar de querer avançar ainda que doa, porque ainda assim dói menos que ficar no mesmo sítio, a não ter medo de mais dor. 
portanto: ou bem que descanso em Ti ou bem que avanço em Ti ou bem que aprendo esse delicado equilíbrio. congelar não vale. contemplar-me a mim própria no vazio não vale. inventar dores não vale.

e se não valesse por mais nada, valeria pelo sussurro, voz clara, tom reivindicativo e ordem repetida até à exaustão. mas valeu por outros tantos mais que seriam demasiados de (d)escrever.

*obrigada mega-hiper-organização "mestre de ofício", obrigada peregrinos do Amor.



quarta-feira, março 23, 2016

A Paixão dos Refugiados

Fonte: Greece Reuters

Em plena Quaresma tem andado a corroer-me esta ideia duma paixão que não estamos a travar.
Porque estas travessias do mar só se assemelham à Paixão de Jesus. Porque estas mortes só se assemelham à morte de Jesus. E porquê é que nós, cristãos, continuamos a deixá-Lo sofrer?
Porque é que não aprendemos com os erros?
Porque é que não somos mais humanos para sermos mais divinos?
Porque é que não só não fazemos nada. como ainda gritamos "Crucifiquem-os!"?
Como é que conseguimos continuar sentados nos nossos sofás, a comer a nossa comida e a viver conformados por "nada pudermos fazer"?
Como é que nos deitamos todas as noites? As mesmas noites em que eles tentam atravessar o mar, que tentam atravessar fronteiras, que tentam não morrer de frio?
Como é que andamos tranquilos com o "tanto" que já fazemos cá?
Desde quando é que a morte se nos tornou indiferente?
Porque é que nos deixámos anestesiar?
Porque é que deixámos de querer?
Como é que deixámos/deixamos isto acontecer?
Porque é que os levamos à cruz? Será porque nos desinstalam? Porque já não estão "longe" em África? Porque temos medo?
Se nunca fizemos nada, façamos agora. O agora hoje, neste segundo. Não podemos adiar mais. Não podemos condenar mais, não podemos continuar a matar.
E sim, somos nós todos que temos que o fazer, os que continuamos a assistir e a permitir.
Dói-me o que não estou fazer, o que não sei fazer, o que não vejo fazer.
Dói-me tudo, como Maria a olhar para uma cruz. Mas pior.
Porque eu devia travar. Porque devia avançar. Porque eu devia gritar.
E o meu maior pecado é este: condenar tantas vezes Jesus, como o número de refugiados que não salvo. E nem sei dizer esse número. Porque ninguém sabe. E como é que é possível ninguém saber?
Mas em Bruxelas todos sabemos quantos são, quantos morreram também sem sentido e sabemos que nos campos eles também sabem e erguem cartazes para nos mostrar a humanidade que perdemos.
Não quero bombas em Bruxelas nem refugiados em lado nenhum.
Quero pessoas acolhidas e com oportunidades para recomeçar.
Quero paz. Quero paz. Quero paz.

segunda-feira, maio 13, 2013

porque ninguém me pediu (ou do Amor ou do arrependimento)


Acomodei-me a alguém me pedir para escrever alguma coisa, true. 

É feio, mas deixei de escrever só porque sim. 
A culpa também é de quem vai pedindo, porque têm pedido com regularidade e a espontaneidade do sem objecto torna-se travão.

Mas seja. Hoje escrevo só porque sinto. Ninguém me pediu. Hoje que fazia imenso sentido, ninguém me pediu. Esqueceram-se.

Mas hoje vi Amor e senti arrependimento. Dor de não ter sido melhor, alegria-alívio de perceber que só Deus aponta caminhos - nós não temos palavras.

Há umas certezas parvas que vamos acalentando, sobretudo a pretensão de que sabemos alguma coisa. Não vale mais a pena a esperança? Esperança de que as coisas sejam como gostaríamos em vez de serem como sabíamos? Se não sabemos nunca nada... E doí menos, quero eu acreditar. É que desejo é sonho parvo quando não se concretiza, a razão se falha, falhamos nós. Nós? Que parvos (só pra não dizer estúpidos).

Sussurraram-me um Amor. Daqueles que enchem medidas e vidas. Daqueles assim com muito Deus à mistura. E eu sorri e pensei que tinha razão. E depois percebi que não era razão, era desejo. Um desejo, que por ser bom, se concretizou. Um desejo que, por ser fora de mim, me animou. Um desejo que me fez confirmar mais e mais e mais que há Amor - dos bonitos. Daquele que posso até nem vir a ter, mas que só por presenciá-lo, já me conforta. Este Amor que por transbordar me toca a mim.

E arrependi-me. De ter sido má, sem ser preciso, de me ter justificado, quando não havia justificação. De ter julgado quase ao ponto de atirar uma pedra. E de ter pensado poder "brincar" com isso. De ter tornado pública a minha maldade. De não pensar. De não pensar. De não pensar. De ser igual aos da crítica fácil. De ter uma amiga que fiz chorar. De não perceber. De não questionar. De me auto-desculpar. De não querer ver - o que é, o que sou. Bom, a verdade é que pequei. E ela disse-me. E eu gosto mais dela por isso. Por me obrigar a ver. Por isso é que haja o que houver, continuo aqui. Arrivederci! E obrigada!

quinta-feira, novembro 29, 2012

encerrada para obras II

ENCERRADA PARA OBRAS

reestruturações profundas em curso nas estruturas

reabre algures...or not

segunda-feira, novembro 12, 2012

blueberry nigths

something's gone

my hearth is acking

my hearth is empty




do you think i also gonna have, somehow, someday, a blueberry night?...


http://youtu.be/RBuZtngQAAY

quarta-feira, outubro 10, 2012


e se o vazio chegasse a este blog de forma tão profunda que ele tivesse que desaparecer?!


terça-feira, setembro 11, 2012

do "campo"

agora que aqui estou tenho a sensação de que podia viver aqui: num sítio onde por esta altura do ano, as ruas cheiram a uvas e vou a pé a todo o lado. onde almoço em casa da minha avó e tudo é um descanso. se calhar depois cansava-me do descanso e de certeza que me faltava o mar. mas assim por momentos, dá-me vontade de aqui ficar, refugiada de todos os mundos que são Lisboa.