quarta-feira, dezembro 15, 2010

dos filhos que (re)convertem os pais

Há um fenómeno curioso nos dias de hoje.

Antes a fé era ensinada, passada exclusivamente de pais para filhos. Tradição familiar. "Normal", inquestionável.
Nem se pensava na possibilidade da não existência de Deus. Não era sequer uma hipótese a considerar.

Depois veio o Iluminismo. Mas ainda assim, até ao início do século passado, mesmo na Europa (sim, porque há outros sítios do mundo que ainda não se coloca a hipótese da não existência de Deus), para alguns era inquestionável. Uma coisa é certa: regra generalíssima que eram os pais a catequizar os filhos.

Hoje em dia vivemos numa sociedade que se pensa secularizada ou pelo menos que se quer assim. Melhor para nós, crentes, obriga-nos a questionar, a sair do quadrado e a ter que conhecer as razões da fé - sim porque a nossa fé tem razões, fundamentos. Obriga-nos a ser mais conscientes. Obriga-nos à autenticidade, senão não só nada valemos como ninguém nos deixa ser "porque sim".

E é aqui que entram os filhos que convertem os pais. De repente, a vida (Deus) concede-lhes a oportunidade fabulosa de irem mais fundo, de perceberem o que ali (naquele desejo de mais) se passa. De pensarem a fé. Começa tudo a fazer sentido e a opção de vida passa ao consciente e comprometido. Os pais param pasmados. Descobrem que até nisto se pode aprender com os filhos. Começam a ir a missas que são animadas por eles, a encontros em que eles participam, a celebrações que eles preparam. "Fogem-lhes" pras beatices. E porque é que um filho do mundo de hoje havia de fugir pra uma igreja, se lá não encontrasse uma "razão" forte? E começam eles a voltar. A apalpar terreno, a (re)descobrir o fascínio que tanto deslumbra os filhos, que lhes faz falta como água. E os não intencionados filhos evangelizam os pais pelo seu testemunho de ausência.

Parece uma contradição, mas acontece. Aconteceu comigo e acontece com muitos.

Isto a propósito de ter conhecido duas mães que se lamentavam (no seu orgulho escondido) do tempo que os filhos "perdem ali" prós estudos. 
"Mas não fazem tudo e não são bons alunos?" - pergunto eu.
"Sim, mas não sabemos como." - dizem elas.

Deus sabe. E é por saber, que se serve dos filhos para converter os pais.
Todos os dias.

1 comentário:

João Delicado disse...

Nunca tinha visto deste ponto de vista!
Tens muita razão, sim senhora! :)

É muito saudável viver num ambiente em que não se "herda" Deus porque nos obriga a procurá-lo por nossa iniciativa; e se os filhos O descobrem antes dos pais, de facto parece que se invertem os papéis!

É um bocadinho como o papel de África e Ásia que, dentro de poucos, serão missionários na Europa: os filhos virão ensinar os "pais na fé".

BJS!
Deli.