quarta-feira, março 23, 2016

A Paixão dos Refugiados

Fonte: Greece Reuters

Em plena Quaresma tem andado a corroer-me esta ideia duma paixão que não estamos a travar.
Porque estas travessias do mar só se assemelham à Paixão de Jesus. Porque estas mortes só se assemelham à morte de Jesus. E porquê é que nós, cristãos, continuamos a deixá-Lo sofrer?
Porque é que não aprendemos com os erros?
Porque é que não somos mais humanos para sermos mais divinos?
Porque é que não só não fazemos nada. como ainda gritamos "Crucifiquem-os!"?
Como é que conseguimos continuar sentados nos nossos sofás, a comer a nossa comida e a viver conformados por "nada pudermos fazer"?
Como é que nos deitamos todas as noites? As mesmas noites em que eles tentam atravessar o mar, que tentam atravessar fronteiras, que tentam não morrer de frio?
Como é que andamos tranquilos com o "tanto" que já fazemos cá?
Desde quando é que a morte se nos tornou indiferente?
Porque é que nos deixámos anestesiar?
Porque é que deixámos de querer?
Como é que deixámos/deixamos isto acontecer?
Porque é que os levamos à cruz? Será porque nos desinstalam? Porque já não estão "longe" em África? Porque temos medo?
Se nunca fizemos nada, façamos agora. O agora hoje, neste segundo. Não podemos adiar mais. Não podemos condenar mais, não podemos continuar a matar.
E sim, somos nós todos que temos que o fazer, os que continuamos a assistir e a permitir.
Dói-me o que não estou fazer, o que não sei fazer, o que não vejo fazer.
Dói-me tudo, como Maria a olhar para uma cruz. Mas pior.
Porque eu devia travar. Porque devia avançar. Porque eu devia gritar.
E o meu maior pecado é este: condenar tantas vezes Jesus, como o número de refugiados que não salvo. E nem sei dizer esse número. Porque ninguém sabe. E como é que é possível ninguém saber?
Mas em Bruxelas todos sabemos quantos são, quantos morreram também sem sentido e sabemos que nos campos eles também sabem e erguem cartazes para nos mostrar a humanidade que perdemos.
Não quero bombas em Bruxelas nem refugiados em lado nenhum.
Quero pessoas acolhidas e com oportunidades para recomeçar.
Quero paz. Quero paz. Quero paz.