quarta-feira, maio 04, 2011

da minha esquizofrenia

às vezes pergunto-me onde pertenço. quando alguém pergunta de onde sou respondo muitas vezes, alegremente, que sou do mundo, mas já é mais que isso: há muitos mundos diferentes que habitam em mim.

na última sexta-feira jantei num bairro social na Damaia, precisamente no dia do temporal de granizo. e quem é que vai para um bairro destes numa sexta destas à noite? nós (eu e a minha turma de mestrado).

mas no sábado dei por mim a jantar na Portugália (vá, nem é assim tão chique), seguido de uma visita a uma suite de hotel de cinco estrelas com uma das melhores vistas de Lisboa que já pude vislumbrar, paga por um indiano, um inglês e um paquistanês (eu e mais três amigas, não me interpretem mal! ;) e como senão bastasse, ainda fomos para o BBC entrando sem pagar, pelo corredor VIP, porque os nossos nomes estavam na guest list.

e no domingo um almoço de família e um cafézinho com a avó, a tia e mãe (porque afinal era dia da mãe), sem ainda falhar a inquestionável misssinha pois claro.


no outro dia o meu pai, a propósito de eu trabalhar com gente 'pobre': "ficas a saber que a tua família sempre se deu mais com gente pobre do que com gente rica". respondi-lhe prontamente: "pois, mas eu já é quase 50-50. não te esqueças que agora há sítios onde me movo em que até o 'protocolo' dos beijinhos é diferente (um ou dois...)"


ora bem.. isto já dava para tripla personalidade e ainda nem falei da diversidade das outras minhas "andanças"...

serão estas realidades irreconciliáveis? sou incoerente? estou a enlouquecer?

gosto de acreditar que não. gosto de acreditar que é o estar aberta a todas as diferentes realidades que me faz mais pessoa, que é assim que cresço, que é por isso que acolho cada vez mais e melhor os outros e o 'distante' de mim. gosto de pensar que não me defino por uma noite num bairro social ou outra num hotel de cinco estrelas. porque gosto de pensar que o me define são sempre e mais uma vez as pessoas com quem me cruzo, e as pessoas não se definem pela quantidade de dinheiro que têm (ainda que às vezes não só, mas também).  porque mesmo quando "fujo" para os que têm mais é sempre para os que têm menos que quero voltar. porque nos momentos em que me são apresentadas as diferentes opções, sei escolher em paz o que discirno que é mais coerente com o que sou. porque descobri, ainda que à custa de algum sofrimento e auto-flagelação, que o mal não está em conviver com o muito, mas sim em usá-lo mal.

porque o que eu sou é bem mais do que o que faço. e porque mesmo com o que sou de 'mal' há Alguém que me ama e me ama até ao fim de mim mesma (ver Jo 13, 1b).

1 comentário:

Anónimo disse...

Basta seres simples, basta seres tu. Gosto mesmo de ti.