segunda-feira, setembro 07, 2009

disfarce

Ninguém acredita em mim, mas há alturas em que eu penso mesmo que o meu coração vai ceder, parar e vou morrer. Às vezes são demasiadas emoções tanto positivas como negativas. Às vezes a energia que corre em mim, não é constante nem estável. Sinto-me a sufocar, sinto-me a explodir, basta uma palavra que nem precisa de ser a certa (apenas parecida com a certa) p'rás lágrimas começarem a fervilhar-me nos olhos.. E eu não quero, não posso. Há outros à minha volta. Só gosto de chorar quando estou sozinha ou protegida por uma companhia segura. Assim publicamente.. expõe-me. Se calhar é orgulho. Não me façam chorar se eu não posso falar, explicar.. Não me façam chorar senão for para rebentar.. se tiverem que ser lágrimas tímidas, pequenas, encolhidas, disfarçadas, caladas..

E foi difícil.. bem mais difícil do que eu pensava.. ir à primeira missa de envio dos Leigos depois de voltar. É o carimbo de que eu voltei e de que já não volto.. pelo menos daquela forma. É ter em flashes 9 meses de formação, 2 anos de missão e 9 meses de regresso. E é muito. É demasiado para o meu coração. Depois as pessoas todas e a quantidade de vidas transformadas por dentro... E Deus a dar-nos a certeza de que foi Ele, só podia ter sido Ele. E eu a lembrar-me da minha enorme pequenez e de como continuo a falhar e a receber Amor - não é isto uma forma de injustiça aos olhos humanos?!

E embrenhar-me atrás de pratos e comida e lixo pra não ter que olhar, pra não ter que falar.. e as pessoas a acharem todas que eu estava a trabalhar muito, sem saberem que eu estava era fugir muito.. O que mostramos para fora é sempre diferente de tudo o que vem cá dentro, e às vezes é mesmo muito diferente...

Não, não foi serviço ontem, foi vontade de fugir dali, vontade de estar ali mas sem sentir. Vontade de estar alegre e, não conseguindo, fazer alguma coisa que me redimisse de não conseguir estar assim, de não conseguir enfrentar o que sinto. E o Evangelho de S. Lucas a pesar-me no coração: "Assim, também vós, quando tiverdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei: ‘Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer.’»" (17,10)

Solidão. À séria. Pela primeira vez desde que vim.

Continuando com a certeza que há consolação depois da desolação.

2 comentários:

Anónimo disse...

Estou contigo, percebo cada lágrima encolhida, cada sorriso disfarçado, cada olhar perdido no chão para que não se percebam os olhos enevoados ... A mim faz-mefalta a comunidade que tantas vezes desejei não ter (ou pelo menos reduzido)...

estou sempre ...

centrípeta disse...

Não estarás a ser dura demais contigo?

Há tempo para tudo. E agora o teu tempo é outro. 9 meses... 2 anos... 1 dia...

Agora é o tempo de ser (in)útil e fazer, aqui, aqui e agora, o que também tem de ser feito.

Não estás a fugir de ti, estás antes si a encontrar-te. Sente tudo isso e muito mais.

No fim... isso. Nunca estamos só.

O Terraço das conversas e dessas que resvalam por nós, frágeis, sem saber o que sentir... espera por ti um destes dias. Mas como sei que andas a mil, vou deixar que sejas tu a auto-convidar-te. :)

Um beijinho e um abraço apertado.

**tua m*