terça-feira, maio 31, 2011

das misérias

E depois há os dias em que um sem-abrigo e uma vizinha preocupada nos obrigam a recolocar tudo em perspectiva..

Maiores que as misérias em que alguns vivem, são as misérias que nos permitimos ser.

segunda-feira, maio 23, 2011

do(s) "príncipe(s) encantado(s)" que existe(m) fora do guião

Fazemos mil planos.

Dizemos: a minha vida vai ser assim, assim e assim.. e se der tempo ainda assim. Tentamos seguir os planos. A vida não deixa. E nós persistimos, teimosos, tentando empurrar os caminhos exactamente para onde era "suposto" estarem. 
Não é que toda a gente seja assim, mas estou convencida, que a esmagadora maioria, consciente ou inconscientemente, o é.

Os planos a falharem e nós a insistirmos neles. A vida a dizer: não é por aí! E nós: é, porque eu quero. Mas a vida não se coaduna com os nossos quereres. Era o que faltava!.. Ainda pensarmos que mandamos alguma coisa nela! Há uns que vivem a vida inteira em negação. Não querem aceitar que seja de outra forma e por isso aceitam viver a fingir.

Por estas semanas, deixei cair mais um mito urbano pessoal.
Tenho esta panca de dois critérios muito bem fechados e definidos no recrutamento masculino. Como são dois critérios relativamente difíceis de conciliar num só homem, a eliminação é constante e fácil, mas que necessariamente torna difícil uma "selecção". 
Sou um bocadinho presunçosa. Procuro o "gourmet", argumentando que sou selecta. No entanto, no meio do deserto dos últimos tempos, uma pequena gota de água substituiu muito bem uma garrafinha de Evian ou Perrier. O que me fez concluir o seguinte: na verdade, o "gourmet" é rapidamente relegado para segundo plano quando nos deparamos com o básico e essencial para uma relação - interesse e carinho (Amor). Se nos sentimos verdadeiramente estimados caem por terra os critérios e as exigências, deixa de importar uma inteligência olímpica ou um estilo de vida quase paralelo. 
Não que eu tenha encontrado um amor da minha vida, mas tive a graça de me cruzar com alguém que me fez recolar tudo em perspectiva e, apesar de ser fruto de uma história tão  insólita como relampejante, valeu pelo que me fez questionar. Não há cá selecções quando há Amor. O Amor por si já é uma selecção.

E lá levei eu (mais) uma chapada de luva branca e mais uma linha do meu "guião" interno riscada, só para eu reaprender a humildade da minha pequenez, para saber o meu lugar. Não há, nem vai haver planos que me salvem. O inesperado continuará a irromper pela minha vida sem pedir licença nem ter considerações por regras e eu tenho mais é que me habituar a este reset constante e libertar-me das formatações. 
Por muito livre e independente que eu pense que já sou, a verdade é que ainda tenho muito que tirar de dentro do meu quadrado. 
Que eu tenha discernimento e abertura para isso.

quarta-feira, maio 04, 2011

da minha esquizofrenia

às vezes pergunto-me onde pertenço. quando alguém pergunta de onde sou respondo muitas vezes, alegremente, que sou do mundo, mas já é mais que isso: há muitos mundos diferentes que habitam em mim.

na última sexta-feira jantei num bairro social na Damaia, precisamente no dia do temporal de granizo. e quem é que vai para um bairro destes numa sexta destas à noite? nós (eu e a minha turma de mestrado).

mas no sábado dei por mim a jantar na Portugália (vá, nem é assim tão chique), seguido de uma visita a uma suite de hotel de cinco estrelas com uma das melhores vistas de Lisboa que já pude vislumbrar, paga por um indiano, um inglês e um paquistanês (eu e mais três amigas, não me interpretem mal! ;) e como senão bastasse, ainda fomos para o BBC entrando sem pagar, pelo corredor VIP, porque os nossos nomes estavam na guest list.

e no domingo um almoço de família e um cafézinho com a avó, a tia e mãe (porque afinal era dia da mãe), sem ainda falhar a inquestionável misssinha pois claro.


no outro dia o meu pai, a propósito de eu trabalhar com gente 'pobre': "ficas a saber que a tua família sempre se deu mais com gente pobre do que com gente rica". respondi-lhe prontamente: "pois, mas eu já é quase 50-50. não te esqueças que agora há sítios onde me movo em que até o 'protocolo' dos beijinhos é diferente (um ou dois...)"


ora bem.. isto já dava para tripla personalidade e ainda nem falei da diversidade das outras minhas "andanças"...

serão estas realidades irreconciliáveis? sou incoerente? estou a enlouquecer?

gosto de acreditar que não. gosto de acreditar que é o estar aberta a todas as diferentes realidades que me faz mais pessoa, que é assim que cresço, que é por isso que acolho cada vez mais e melhor os outros e o 'distante' de mim. gosto de pensar que não me defino por uma noite num bairro social ou outra num hotel de cinco estrelas. porque gosto de pensar que o me define são sempre e mais uma vez as pessoas com quem me cruzo, e as pessoas não se definem pela quantidade de dinheiro que têm (ainda que às vezes não só, mas também).  porque mesmo quando "fujo" para os que têm mais é sempre para os que têm menos que quero voltar. porque nos momentos em que me são apresentadas as diferentes opções, sei escolher em paz o que discirno que é mais coerente com o que sou. porque descobri, ainda que à custa de algum sofrimento e auto-flagelação, que o mal não está em conviver com o muito, mas sim em usá-lo mal.

porque o que eu sou é bem mais do que o que faço. e porque mesmo com o que sou de 'mal' há Alguém que me ama e me ama até ao fim de mim mesma (ver Jo 13, 1b).