segunda-feira, dezembro 20, 2010

estrelas - muitas!

No noite dos meus anos apareceram-me umas estrelas à porta de casa.
Eu não as esperava e traziam com elas toda a Luz de Deus (e por isso são elas próprias o meu maior presente) e este poema.
Já no ano passado, tinham aqui vagueado outras estrelas.. espero que esta "moda" passe.. senão ainda morro de ataque de coração, com mais algum aniversário destes! ;)

[...]
Então eu vi chegar ao meu encontro
Aqueles que uma estrela iluminava

E assim eles disseram: «Vem connosco
Se também vens seguindo aquela estrela»
Então soube que a estrela que eu seguia
Era real e não imaginada

Grandes noites redondas nos cercaram
Grandes brumas miragens nos mostraram
Grandes silêncios de ecos vagabundos
Em direcções distantes nos chamaram
E a sombra dos três homens sobre a terra
Ao lado dos meus passos caminhava
E eu espantada vi que aquela estrela
Para a cidade dos homens nos guiava

E a estrela do céu parou em cima
de uma rua sem cor e sem beleza
Onde a luz tinha a cor que tem a cinza
Longe do verde azul da natureza

Ali não vi as coisas que eu amava
Nem o brilho do sol nem o da água

Ao lado do hospital e da prisão
Entre o agiota e o templo profanado
Onde a rua é mais triste e mais sozinha
E onde tudo parece abandonado
Um lugar pela estrela foi marcado

Nesse lugar pensei: «Quanto deserto
Atravessei para encontrar aquilo
Que morava entre os homens e tão perto»

A estrela, Sophia de Mello Breyner Andressen



quarta-feira, dezembro 15, 2010

dos filhos que (re)convertem os pais

Há um fenómeno curioso nos dias de hoje.

Antes a fé era ensinada, passada exclusivamente de pais para filhos. Tradição familiar. "Normal", inquestionável.
Nem se pensava na possibilidade da não existência de Deus. Não era sequer uma hipótese a considerar.

Depois veio o Iluminismo. Mas ainda assim, até ao início do século passado, mesmo na Europa (sim, porque há outros sítios do mundo que ainda não se coloca a hipótese da não existência de Deus), para alguns era inquestionável. Uma coisa é certa: regra generalíssima que eram os pais a catequizar os filhos.

Hoje em dia vivemos numa sociedade que se pensa secularizada ou pelo menos que se quer assim. Melhor para nós, crentes, obriga-nos a questionar, a sair do quadrado e a ter que conhecer as razões da fé - sim porque a nossa fé tem razões, fundamentos. Obriga-nos a ser mais conscientes. Obriga-nos à autenticidade, senão não só nada valemos como ninguém nos deixa ser "porque sim".

E é aqui que entram os filhos que convertem os pais. De repente, a vida (Deus) concede-lhes a oportunidade fabulosa de irem mais fundo, de perceberem o que ali (naquele desejo de mais) se passa. De pensarem a fé. Começa tudo a fazer sentido e a opção de vida passa ao consciente e comprometido. Os pais param pasmados. Descobrem que até nisto se pode aprender com os filhos. Começam a ir a missas que são animadas por eles, a encontros em que eles participam, a celebrações que eles preparam. "Fogem-lhes" pras beatices. E porque é que um filho do mundo de hoje havia de fugir pra uma igreja, se lá não encontrasse uma "razão" forte? E começam eles a voltar. A apalpar terreno, a (re)descobrir o fascínio que tanto deslumbra os filhos, que lhes faz falta como água. E os não intencionados filhos evangelizam os pais pelo seu testemunho de ausência.

Parece uma contradição, mas acontece. Aconteceu comigo e acontece com muitos.

Isto a propósito de ter conhecido duas mães que se lamentavam (no seu orgulho escondido) do tempo que os filhos "perdem ali" prós estudos. 
"Mas não fazem tudo e não são bons alunos?" - pergunto eu.
"Sim, mas não sabemos como." - dizem elas.

Deus sabe. E é por saber, que se serve dos filhos para converter os pais.
Todos os dias.