foi tão difícil que é impossível de descrever... e mesmo os meus pés que podem ilustrar um pouco a minha dor, não chegam para tudo o que me passou pelo corpo e pela alma.
é difícil o caminho quando não estamos preparados, quando há quem ande mais depressa que nós, quando somos fracos. é difícil caminhar sem olhar pró lado, prá frente, pra trás. impossível carregar somente o peso da mochila, vem ainda o das dores do corpo (que é subitamente muito mais pesado) e o das dores da alma. impossível não aparecer o nosso lado lunar a colar-se a nós como sombra à qual tentamos, inutilmente, fugir.
teria sido impossível chegar até ao fim senão gritasse constantemente ao mau espírito dentro de mim: "vai-te embora! eu sei que consigo porque não sou eu que consigo, é Deus que consegue por mim". E repetir até à exaustão as frases de S. Paulo:
"Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim" Gl 2, 20a
"Pois quando sou fraco, então é que sou forte" 2 Cor 12, 10b
"Tudo posso, Naquele que tudo pode" Fil 4, 13
"Por isso, não desfalecemos, e mesmo se, em nós, o homem exterior vai caminhando para a ruína, o homem interior renova-se, dia após dia. Com efeito, a nossa momentânea e leve tribulação proporciona-nos um peso eterno de glória, além de toda e qualquer medida. Não olhamos para as coisas visíveis, mas para as invisíveis, porque as visíveis são passageiras, ao passo que as invisíveis são eternas." 2 Cor 4, 16-18
"Não sabeis que os que correm no estádio correm todos, mas só um ganha o prémio? Correi, pois, assim, para o alcançardes. Os atletas impõem a si mesmos toda a espécie de privações: eles, para ganhar uma coroa corruptível; nós, porém, para ganhar uma coroa incorruptível. Assim, também eu corro, mas não às cegas; dou golpes, mas não no ar. Castigo o meu corpo e mantenho-o submisso, para que não aconteça que, tendo pregado aos outros, venha eu próprio a ser eliminado." 1Cor 9, 24 - 27
e sem ser de repente mas sim de mansinho, perceber que há sacrifícios, que a maioria deles aliás, só valem a pena ser feitos quando feitos por Deus. que não há nada que pague a nossa alma. que há sempre mais que podemos dar. que há sempre mais um bocadinho de caminho que conseguimos fazer, mesmo quando o nosso corpo parece querer impor limites. que somos mais fortes do que os kms que nos assustam, do que as distâncias que nos desalentam, do que o que dizemos que somos capazes. ainda que custe, ainda que doa, ainda que se prolongue mais do que pensámos, ainda que tenhamos que "ter esperança contra toda a esperança". ainda que tudo diga que não, se conseguirmos gritar bem fundo que sim... Deus ajuda e dá a força. e nós superamos-nos. até à próxima. pelo menos até à próxima queixa. até à próxima vez que for preciso voltar a acreditar.
mas o acumular da kilometragem começa já a indicar que é sempre possível. e por isso seremos mais fortes na próxima prova. teoricamente....
Haja caminho e as setas de Deus a guiar-nos..
Foto: Margarida Paccetti Correia