domingo, janeiro 30, 2011

matar ou deixar-me morrer

temos que ter cuidado com o que pensamos adormecido.
porque quando é "acordado", pode voltar com muita força.
ou nos prevenimos ou matamos de vez.
either way.. envolve sofrimento.

temos nós coragem de sofrer?

sexta-feira, janeiro 21, 2011

destes heróis anónimos

Não sei bem que pense destes com quem me cruzo.

Tenho uma profissão dura - a de ter que apontar caminhos. E quando eles não existem e é o desespero que se personifica à minha frente, apetece-me fugir. Ser cobarde, baixar os braços, dizer basta, não consigo, não quero porque não posso. Apetece-me incitá-los à revolta popular, ao roubo dos vergonhosamente ricos à custa deles próprios. Dá-me ganas de gritar aos que falam contra os apoios sociais sem conhecerem nenhuma destas realidades. De irromper parlamento adentro com eles todos atrás de mim e clamar por justiça, de lhes esfregar na cara a pobreza, que também tem cara e sofrimento. De lhes sujar as mãos, enojar com os cheiros. De os obrigar a VER! Sim, a VER! Porque o fácil é viver num condomínio fechado e fingir que tudo isto não existe. Ir passar um fim-de-semana ao monte e minimizar a realidade. Para calar a voz da consciência, satisfazer os pudores socais e alimentar uma certa imagem, talvez contribuir um (muito) pouco para uma organização através da internet ou ir a um jantar chiquérrimo de beneficência (é melhor evitar o contacto directo), mas nada de exageros que a crise anda aí.
E ter estes heróis nacionais que andam na intervenção social, sem estatutos reconhecidos, com contratos mais precários que os dos próprios utentes, a dar horas e sangue. E suor voluntários nos projectos onde são.. profissionais. A viverem na eminência de corte de mais um financiamento, quando eles precisam de mais vinte (pelo menos). A fazer omeletes sem ovos (e frigideira!). A serem humanos para além de toda a humanidade possível. A quererem crer, já sem crerem. A desesperar com contenção porque nunca podem desesperar tanto como os que têm à frente. Sem os puderem abraçar e fazer acreditar que têm verdadeira compaixão pelas suas chagas (porque somos "técnicos", não somos amigos.. porque é questionável).
Estes heróis anónimos todos os dias nas trincheiras da frente sem capacetes sequer, quanto mais armas para atacar os males inimigos e alheios. Expostos. Entregues. Com um brilho escondido nos olhos, sempre que uma luzinha se acende. À espera que exista sempre uma luzinha qualquer que lhes permita alimentar a própria chama. Só mais um bocadinho..

sábado, janeiro 15, 2011

da confiança

Quando me "esqueço" de escrever em momentos importantes, dá-me sempre a vontade de declarar a morte súbita deste blog e efectivamente nunca o faço.

Ando a mil (pra variar) e ficam para trás as coisas importantes como rezar e escrever.

Mas sei que posso sempre voltar. Sei que tenho sempre colo junto de Deus. E as coisas muitas vezes não correm como esperamos e há obstáculos que nem sabemos como ultrapassar. Mas a minha opção é a da confiança. Mesmo quando a confiança se começa a esvair. Mas mais do que nunca não me posso queixar da minha vida. Teria, eventualmente, razões para isso. Mas não posso. Escolho confiar. Às vezes é mesmo preciso estabilidade, desde que não nos entreguemos à comodidade. Às vezes somos só nós e Deus, o tal Deus connosco.

Não é tudo linear, nem tudo corre bem. Mas tudo é o que é e os meus calculismos de pouco servem.

A minha palavra de 2010 foi permanecer. Que agora possa permanecer.. na confiança, mesmo cheia de tremeliques, daqueles meus, daqueles humanos.

Haja Deus.

sexta-feira, janeiro 07, 2011

Não te quero senão porque te quero

No te quiero sino porque te quiero
y de quererte a no quererte llego
y de esperarte cuando no te espero
pasa mi corazón del frío al fuego.
Te quiero sólo porque a ti te quiero,
te odio sin fin, y odiándote te ruego,
y la medida de mi amor viajero
es no verte y amarte como un ciego.

Tal vez consumirá la luz de Enero,
su rayo cruel, mi corazón entero,
robándome la llave del sosiego.
En esta historia sólo yo me muero
y moriré de amor porque te quiero,
porque te quiero, amor, a sangre y fuego.



Pablo Neruda Cien Sonetos de Amor (1959) Soneto LXVI