terça-feira, março 23, 2010

wondering

será que o problema é que só agora é que aterrei de Moçambique?

quinta-feira, março 18, 2010

do reconhecimento

Acredito no reconhecimento. Piamente.

Sei o valor e a importância que tem. 

"Sim, é verdade, se as pessoas dão pelas "razões certas" (haverá razões certas?) não devem esperar retribuição". Isto é a frase feita que aproveito para desconstruir. O que não devemos deixar que aconteça é que a nossa expectativa em relação à retribuição transforme em mau o que demos. Porque é impossível não esperarmos, em diferentes níveis, algum efeito. Exemplo simples: se sorrimos para outra pessoa pode ser só porque a queremos ver feliz, mas esperamos ainda que "inconscientemente", um sorriso de volta. E esse sorriso é uma retribuição. Altruísta, mas retribuição. Basicamente causa-efeito. A uma acção, esperamos uma reacção. Portanto, não interessa se temos expectativa ou não, interessa o que fazemos quando essa expectativa é frustrada. E disso depende até se a nossa acção original mantém o bem ou não. Ora, se eu der uma bofetada a quem não me sorriu de volta, de que adianta o sorriso inicial? Corro o risco de estar a ser simplista mas quero mesmo que a ideia seja perceptível.

E às vezes até nos sentimos mal por fazer uma boa acção pelas "razões erradas", mas não devemos por em causa a boa acção, devemos sim, como dizem uns iluminados que conheço por aí, ir purificando as intenções com que fazemos as mesmas boas acções.

Findo este preâmbulo volto ao início: é importante reconhecer.

É importante reconhecer o bem feito e a generosidade de que vamos beneficiando. Mesmo que a pessoa saiba gerir extraordinariamente bem até as poucas expectativas que possa ter. Não podemos deixar de reconhecer. Temos que agradecer, devolver o que é bom. Quanto mais não fosse, porque isso motiva a pessoa a continuar a ser bem.

E porque às vezes os outros não sabem a dimensão com nos atingiu a pequenez do gesto que fizeram (porque é que quando é mal que nos fazem, devolvemos mais automaticamente que o bem?). Porque precisam de saber o que repetir bem. O que ajuda. O que é intuitivo da parte deles, e por isso não pensado, mas que os faz levar o bem. Precisamos dos outros como espelho também. Porque lá está, mesmo que inconsciente, não deixa de ser bem. 

E de quantos e quantas vezes nos esquecemos de agradecer? De demasiados, demasiadas vezes. Por isso acredito que se deve devolver no imediato. Para não nos esquecermos. E depois.. ao longo da vida, sempre que nos passar pelo coração, voltar a agradecer. Nunca agradecemos demais. 

Sabem o verdadeiro significado da palavra OBRIGADO? Não vem de obrigação, como habitualmente somos tentados a pensar. Vem de ficar ligado a alguém que nos faz o bem. E não é tão bonito saber isto?

Isto tudo porque alguém me perguntou há pouco tempo porque é que eu tinha tanta necessidade de reconhecer os outros. 

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P.S. Aproveito para agradecer a todos os que me lêem, incluindo os que o fazem sem eu saber, e que por isso dão um sentido a este blog.

quinta-feira, março 04, 2010

o que me faz voltar a escrever

Hoje gritaram "Andreia" no meio do bairro. Ainda pensei duas vezes mas olhei para trás e vi uma cara conhecida com um nome desconhecido. Precisavam de ajuda de uma assistente social. No meu relógio já passava da minha hora de saída e tinha acabado de estar em 3 casas diferentes no bairro. 

- "Pode ser o meu Amiguinho lá de cima a chamar. Nunca se sabe."

Quando dei por mim, estava a fazer um atendimento social "informal" num corredor do supermercado do bairro (entre farinha de mandioca de angola e chocapic) e uma promessa de um contacto que ia ajudar. Saio do supermercado. Já não sou invisível neste bairro. Já tenho nome, já gritam por mim na rua. E estou quase a ir. Mas só por hoje tinha valido a pena. Sabem que podem contar comigo. E venci a batalha do "Dra. Andreia". É Andreia que gritam e eu sei que sou eu.

Olho pró relógio. Afinal não é assim tão tarde. E foi, de facto, por uma boa causa. Gostava de ter todos os dias este discernimento: saber que tenho que voltar pra trás e "perder tempo". E não me preocupar com daqui a um mês já não estar lá.